Enxergamos e entendemos os diferentes fenômenos da vida por meio de visões filosóficas, sociológicas, religiosas ou, como gosto de dizer, por meio de lentes que fazem com que cada uma das situações faça algum sentido pra nós.
Deixa eu explicar de outra maneira como funcionam essas “lentes”… Imagine que você está num ponto de ônibus. Você está sozinho, sozinha… Ai alguém chega, olha pra você e, do nada, te diz: “o pato nunca bota ovo”.
A pessoa olha um pouco mais pra você e ela vai embora, sem dizer mais nada.
Na sua cabeça, como fica essa cena? Talvez você ache a situação engraçada, pense que a pessoa é maluca… Mas, no fundo, você sabe que a cena toda é meio sem sentido.
Como essa cena pode fazer sentido? Se a gente souber o contexto.
A pessoa que chegou até você no ponto de ônibus e soltou a frase era, na verdade, um investigador federal. Ele acreditou que você era um informante, uma informante. Você estava no local certo, na hora certa, mas era a pessoa errada.
A frase era apenas uma chave para confirmar se você era a pessoa certa. Quando ele disse “o pato nunca bota ovo” e você não respondeu nada, ele notou o engano e foi embora. Havia uma resposta prevista, uma resposta que identificaria se você era o informante.
E aí… Agora fez sentido o que aconteceu? A história do Ronaldo é meio maluca, mas, dentro de um contexto, por mais maluca que seja, faz algum sentido. Concorda?
Gente, é assim com tudo na vida. Já na infância, nos primeiros anos, queremos o sentido das coisas.
Por que precisa ir pra escola?
Por que não pode tomar tanto sorvete?
As perguntas são inúmeras. E as respostas colocam as coisas dentro de um contexto maior.
São essas explicações que nos movem. Porém, presta atenção no Ronaldo, essas respostas nem sempre são um simples um contexto; às vezes também podem expressar uma visão de mundo.
Nossas ações diárias – todas elas – são justificadas pela compreensão do que parece ser o certo.
Um homem que trabalha 12 horas por dia, sai de madrugada de casa e só volta muito tarde cansado, sem tempo para a esposa e para os filhos, vive essa rotina intensa movido uma crença.
A escolha que faz, ele faz tendo como lente a filosofia do mundo dos negócios. Faz o que faz achando que está fazendo o certo.
Um jovem que, aos 20 anos, sente-se pressionado em abrir mão da virgindade, sente-se assim porque o que é tido como normal é que ele tenha vida sexual ativa.
Na prática, para cada situação que vivemos, existe uma forma de pensar que se impõe, colocando-se como sendo a verdade, como sendo o jeito certo de interpretar e ver aquela situação.
Na era moderna, a ciência passou a ocupar esse lugar de produtor de sentido para cada uma das experiências humanas.
Com isso, em virtude da pluralidade de explicações dadas pelas ciências, temos inúmeras formas de colocar as coisas num contexto. Ou, noutras palavras, temos várias maneiras de explicar os fenômenos que nos cercam. Essas explicações nos ajudam a entender o que não entendemos. Ajudam a justificar as coisas.
Acontece que nem toda explicação científica é coerente. A ciências, por vezes, se contradizem. E noutros momentos causam rupturas em hábitos históricos da sociedade.
Há alguns anos, entendi que precisamos de uma lente maior, uma referência, um filtro.
Eu passei a usar isso. Sou alguém que navega com certa facilidade pelas mais diferentes linhas filosóficas, sociológicas, psicológicas… E de todos os grandes explicadores da vida e da sociedade, tiro coisas preciosas. Muitas delas, você encontra nas minhas falas, nos meus textos.
Como fazer isso de maneira produtiva? Tendo uma lente maior.
Alguns chamam isso de cosmovisão. Eu sigo chamando de lente… E a lente é a Palavra de Deus, tendo como principal referência os ensinos e o modo de viver de Jesus Cristo.
Ao fazer isso, todas as explicações encontradas, inclusive pelas ciências, passam por um filtro que organiza e também limpa os excessos.
O mundo que a gente vive separou a chamada vida espiritual, da vida secular, do mundo do trabalho, do mundo dos estudos. Com isso, muita gente usa a lente da Palavra apenas à vida religiosa.
Entretanto, tenho descoberto que quando temos uma lente maior para observar tudo, a confusão acaba.
Nós somos únicos. É assim que Deus nos olha. O meu trabalho é vida. E se é vida, é para a glória de Deus. Os meus estudos são vida; e se são vida, são para a glória de Deus. As minhas ações na internet são parte do que sou; e eu vivo para a glória de Deus. A minha sexualidade é vida, e a vida é para a glória de Deus.
Pegou a ideia?
O contexto que dá sentido a cada uma das ações que desenvolvemos deve tomar como referência a lente maior, a lente da Palavra.
Essa é a unica forma de viver plenamente, vivendo tudo que deve ser vivido, de maneira abundante. E com sentido.
Foto: Pixabay