Um fracasso não define quem somos

Tiago Volpi falhou. Uma falha horrorosa. O goleiro foi o responsável pelo gol sofrido pelo São Paulo diante do Ceará, em partida do Campeonato Brasileiro. As imagens da falha de Volpi foram reprisadas inúmeras vezes nos programas esportivos da TV. Ao longo de vários minutos, comentaristas falavam do erro do goleiro. Vídeos também circularam na internet e foram parar até no whatsapp.

Fiquei pensando: uma defesa espetacular do goleiro teria ganhado a mesma visibilidade? Provavelmente não – talvez se fosse no último minuto dos acréscimos da partida numa final de campeonato. Ainda assim, não impactaria tanto a vida do jogador.

Outro pensamento me ocorreu: por que dedicamos mais atenção aos erros do que aos acertos?

Parece-nos natural enxergar mais os defeitos do que observar as virtudes. Uma pessoa pode ser marcada por toda a vida por um pecado da juventude. Em nossa hipocrisia cotidiana, pessoas são avaliadas pelo que aparentam e usamos uma lupa para dar visibilidade às falhas. Um fracasso pode se tornar alvo eterno de nossos julgamentos.

Um erro grave tem tanto efeito que pode nos perseguir por toda uma vida. Norteia o olhar do outro sobre nós e, curiosamente, o nosso próprio olhar. Por vezes, não conseguimos nos livrar da culpa. Na tentativa de prosseguir, o fracasso está lá impedindo-nos de experimentar, de arriscar, de ousar, de surpreender, de viver. Uma lista de acertos, de coisas boas que já foram feitas parece insuficiente para apagar um episódio negro.

Entretanto, é preciso ressignificar essas quedas. Um erro não representa o que somos. Um fracasso ou outro não define qual é o nosso caráter, nossa competência, não pode definir nossa identidade.

Imagem: Marcello Zambrana/AGIF (UOL)

Um país gigante, mas insignificante em conhecimento, inovação

Relatório do Índice Global de Inovação, divulgado esta semana, mostra que o Brasil é apenas o 64º país no ranking de inovação. Somos a oitava economia do planeta, o quinto maior em extensão territorial, somos um dos maiores produtores de alimentos do planeta, mas somos insignificantes quando o assunto é inovação.

No ranking de inovação, o melhor país da América é o Chile; aparece na 47º posição. O índice é publicado anualmente pela Universidade Cornell, Insead e Organização Mundial de Propriedade Intelectual.

Quando terminaram as quartas de final, muita gente lamentou o fato de não ter restado nenhum dos países da América entre os quatro melhores da Copa. Os três gigantes da América, com nove títulos mundiais – Argentina, Uruguai e Brasil – foram eliminados no mata-mata.

Na elite do futebol, ficaram apenas os europeus.

Algumas pessoas se dedicaram a tentar explicar o fato. Mas há algo que nem todo mundo tem observado: o mundo de hoje é da competência, da organização, da especialização, da profissionalização. Não há espaço para amadores.

E por que falo de Copa do Mundo, quando o assunto principal é a pequenez do Brasil no ranking de inovação? Porque o futebol é espelho da cultura de um país de gente que quer dinheiro, mas tem pouca disposição em experimentar coisas novas, buscar o conhecimento, investir em formação ampla – que vai para além da mera qualificação para uma única atividade.

No futebol ou em qualquer outra área, não há mais espaço apenas para o talento. O talento precisa ser lapidado. E isso só acontece em espaços que privilegiam a inovação. 

Ao longo de sua história, o Brasil do futebol, da política, da ciência e dos negócios tem se contentado com pouco. Basta os poderosos ganharem dinheiro e está tudo certo. Não existem políticas de longo prazo, não se fazem reformas estruturais e nem há preocupação de fato em fazer investimentos em infraestrutura, tecnologia e muito menos contemplar o desenvolvimento de todas as pessoas.

O ranking inovação, hoje, é liderado pela Suíça. Depois, temos os chamados Países Baixos, Suécia, Reino Unido, Cingapura, Estados Unidos, Finlândia, Dinamarca, Alemanha e Irlanda.

Lideram o ranking porque têm altas taxas de depósito de pedidos de propriedade intelectual, criação de aplicativos, gastos com educação, publicações científicas e técnicas. Ou seja, há um investimento real na promoção do conhecimento e este conhecimento se espalha por diferentes setores. A condição de vida das pessoas melhora, a economia cresce e tudo mais se moderniza.

Podcast da Band News. 

Um voto de confiança ao Dunga

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Antes de ser questionado, quero que o amigo e leitor saiba de uma coisa: defendo um técnico estrangeiro para comandar a seleção brasileira; e isso antes mesmo da contratação de Felipão em 2012. Penso que o futebol do país está atrasado e não temos treinadores para colocar a equipe da CBF de volta ao topo do mundo.

Feito o esclarecimento, vamos ao que temos de fato: o retorno de Dunga. A primeira grande pergunta que os torcedores deveriam fazer é: porque odiamos o Dunga? O Fantástico mostrou nesse domingo, 20, que cerca de 85% dos torcedores rejeitam o técnico na seleção. Quando o nome do capitão do tetra apareceu como provável substituto de Felipão, a rejeição “bombou” nas redes sociais. Mas por que isso?

Durante os quatro anos de Dunga na seleção, o Brasil nunca mostrou um futebol encantador. Eu mesmo pedi várias vezes a saída dele. Porém, duas coisas são certas: primeira, desde que comecei a acompanhar futebol, com exceção de algumas partidas, nunca vi o Brasil jogar bonito de verdade e, segunda, os números do treinador no comando da seleção são bastante positivos (em 59 partidas, apenas seis derrotas; e dois títulos em quatro anos).

Eu comecei a acompanhar futebol por volta dos anos 1990. Não vi as equipes treinadas por Telê Santana. Ou seja, a primeira Copa que acompanhei de fato foi aquela em que o Brasil foi eliminado pela Argentina. Curiosamente, naquele ano, Dunga foi crucificado como o responsável pela seleção ter caído ainda nas oitavas. Sinceramente, em nenhum momento aquela seleção me encantou. Depois veio Falcão no comando técnico. Foi um “deus-nos-acuda”. A tal renovação fez a gente ser saco de pancadas. Falcão foi demitido e Parreira assumiu. E como foi o time brasileiro? Horroroso! A gente sofria demais. Classificamos para Copa de 1994 na última hora. Um sufoco. Mas o futebol de resultados ganhou o título. Zagalo ficou com o comando da seleção. Nada mudou. E a saga terminou nos 3 a 0 para a França em 1998. Depois veio Luxemburgo, Leão… A torcida sofria, sofria. E a seleção raramente fazia um jogo empolgante. Com tantas decepções, veio Felipão. Que ganhou o título de 2002, mas também nada de futebol-arte. Na seqüência, mas Parreira… Depois Dunga, Felipão de novo…

Bom, estou retomando a trajetória do Brasil só para lembrar uma coisa: o tal futebol espetáculo, ou futebol-arte, faz tempo que é só história mesmo. Então não dá para acreditar que Tite, Abel Braga ou Muricy mudariam essa realidade. Nenhum deles é brilhante. Sem contar que nos faltam jogadores para isso.

Quanto ao Dunga, ele não é melhor que nenhum desses três aí. No entanto, nenhum deles também representa grandes mudança ou é tão melhor. Tecnicamente, podem ser mais preparados; mas em experiência em competições com a seleção, Dunga tem larga vantagem (muitos anos como jogador e outros quatro como técnico).

Muita gente lamenta a não contratação de Tite, o ex-técnico do Corinthians. E eu também acho, pelo cenário atual, que ele merecia uma chance. Porém, Tite é bonachão… Manteria as portas abertas para a Globo, aceitaria as invasões de celebridades e, semelhante a Felipão (e até Dunga), é fiel aos seus jogadores. Foi isso que o afundou em 2013 no Corinthians. Não renovou e… dançou. Poderia revolucionar a seleção? Dificilmente.

Então, por que Dunga não pode retornar? Vamos voltar a primeira pergunta: por que o Brasil o rejeita?

É você que tem argumentos para rejeitar o Dunga ou esse sentimento foi criado aí dentro? 

Se a seleção não joga bonito há décadas, se mesmo jogando feio, o grande fracasso de Dunga foi a eliminação diante da Holanda em 2010, por que ele não pode voltar?

Posso estar errado, mas penso que as verdades sobre Dunga são verdades construídas. Crucificaram o ex-técnico naquela eliminação. Com problemas sim, mas o Brasil fazia uma Copa na África mais regular e bem menos dramática do que fez aqui no Brasil. A seleção principal, sob comando dele, nunca foi humilhada. Mesmo diante da Holanda, a equipe fez um excelente primeiro tempo. Vencia a partida. Sofreu a virada no segundo tempo, mas deixou o mundial sem ser envergonhada. Além disso, perdeu para quem foi vice-campeã naquele ano, e terceiro lugar agora, justamente contra a nossa equipe – com a diferença que desta vez foram 3 a 0. Ou seja, é preciso reconhecer que Dunga tem suas qualidades. E fome por vitórias.

No futebol, pela paixão que o povo tem pelo esporte, quando o Brasil perde, busca-se um culpado. Dunga foi culpado duas vezes: em 1990, como jogador; em 2010, como técnico. E pela maneira dura, raivosa com que tratou a Rede Globo, as notícias negativas contra ele foram amplificadas. Dunga não foi poupado. Não houve distanciamento na análise de seu trabalho (não muito diferente do que está acontecendo agora com o Felipão; a diferença é que pelo menos Felipão foi simpático com a grande imprensa e isso dá certo crédito ao treinador). Não foi a eliminação de 2010 que hoje deu – e dá – argumentos à rejeição absurda a Dunga. A rejeição é um sentimento construído. Potencializado sim por fatos, mas que não são a medida, não representam a totalidade do trabalho dele no comando do Brasil.

Penso que estatísticas não vencem jogos. Passado não constrói futuro. Porém, Dunga foi personagem da virada em campo. Foi do inferno em 1990 ao paraíso em 1994. Será que não pode se superar também como técnico?

PS- O texto apenas se propõe a fazer pensar. Parece-me que, além da rejeição ao Dunga ser efeito do discurso midiático, a decepção com o fracasso do futebol brasileiro não está gerando um debate equilibrado.

Os erros do Brasil

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Vexame histórico. Vergonha. Desastre… Enfim, há várias palavras para caracterizar os 7 a 1 sofridos na semifinal da Copa contra a Alemanha. Entretanto, a derrota dessa terça-feira, 8 de julho, não começou às 17h no Mineirão.  Os 7 a 1 sofridos são a metáfora de uma decadência. A goleada iniciou muito antes… O que aconteceu em Belo Horizonte é resultado de uma série de erros que antecedem a própria estreia do Brasil no dia 12 de junho. E há mais de um responsável.

Vamos tentar entender o que aconteceu.

Felipão e Parreira – quando assumiram o Brasil, após a demissão de Mano Menezes, foram a melhor aposta da CBF (isso, entre as opções de técnicos brasileiros). A seleção estava desacreditada. Os jogadores, que fossem convocados, precisavam confiar no comando técnico. Felipão e Parreira foram os últimos campeões do Brasil. Eram respeitados. Apesar disso, estão defasados. Não assimilaram o que há de mais moderno no futebol mundial. Iludiram-se com a conquista da Copa das Confederações diante da Espanha e praticamente não mudaram a equipe que venceu aquela competição – mesmo com alguns jogadores em má fase.

Convocação – alguns nomes não deveriam estar entre os 23 convocados. Por exemplo, Fred, Hulk, Bernard e Jô. Na verdade, o Brasil sofre com a falta de atacantes. Não tem ninguém brilhante. Neymar é nossa maior referência. Ainda assim, esses quatro não são jogadores com futebol para defender uma seleção pentacampeã.

Equipe – a gente pode até questionar a convocação de mais alguns nomes. Porém, o futebol brasileiro não tem produzido jogadores brilhantes. O momento é ruim. Talvez tenhamos a pior geração dos últimos anos.

Escalação – mesmo com uma equipe limitada, Felipão escalou mal ao longo de toda Copa. Talvez o melhor momento do técnico foi contra a Colômbia. Ontem, por exemplo, o treinador fez uma péssima aposta. Deve ter achado que a identificação com o povo mineiro, com o estádio, ser ovacionado pela torcida, faria Bernard jogar o que não estava jogando nos treinos. Errou. E feio.

Jogadores – não vejo culpa neles. Mesmo Fred, o mais atacado, parecia comprometido com a seleção. O problema é que ele e outros que foram mal na Copa não estão num bom momento ou não possuem futebol para a seleção. Jogador não tem culpa de ser convocado e escalado. Pode ser responsabilizado por ser displicente. Não foi o caso. Eles só não jogaram o suficiente– e nem foram treinados taticamente – para disputar o Mundial.

CBF – aqui é que aparecem os maiores problemas. Vejamos:

a) não aprendeu com a eliminação contra a Holanda em 2010;

b) naquele ano, apostou em Mano Menezes, que tinha como principais conquistas o campeonato brasileiro da Série B e uma Copa do Brasil pelo Corinthians;

c) com o desastre de Mano no comando técnico, a entidade foi conservadora: apostou no que parecia seguro, Felipão e Parreira, os dois últimos campeões. Faltou ousadia. Havia clima para contratar um técnico estrangeiro. O espanhol Pep Guardiola era um nome cogitado;

d) o título da Copa das Confederações em 2013 criou uma onda de ilusões. A CBF achou que tinha encontrado o caminho da vitória para o Mundial. Felipão e Parreira acreditaram que os 3 a 0 contra os espanhóis representava a fórmula para o título. A tática já estava definida. Não era necessário treinar nada diferente. Só cuidar do espetáculo com a imprensa. Isso deixou o time óbvio, previsível;

e) o Brasil de Dunga se fechou, em especial para a Globo. Criou uma imagem de uma equipe carrancuda, mal-humorada. O presidente da CBF, José Marin, não queria isso. Então deixou as portas abertas da seleção. E comprometeu completamente os preparativos da equipe. O time estava na tevê, mas não em campo treinando;

f) a CBF foi política. Não quis criar desconfortos com presidentes das federações levando a seleção para São Paulo, ou para Minas, ou para a Bahia etc etc… O Brasil concentrado num desses lugares, deixaria insatisfeitos os cartolas dos demais estados/clubes. Quis agradar a todos e ficou em Teresópolis. A Granja Comary é aberta. Todo mundo espia, vê… Não dá para fazer treinos fechados, não tem como ensaiar as táticas. Chegou-se ao absurdo de variações táticas serem treinadas uma única vez por dez minutos apenas.

Enfim, o Brasil segue amador. Acha que emoção, vontade, apoio da torcida ganham jogo. Na verdade, podem ajudar, mas o futebol moderno pede estratégia, treinamento, variações táticas. Os cartolas e técnicos são dinossauros. Estão no século passado. E não há mudança prevista. Entre os nomes para substituir Felipão e Parreira aparecem: Muricy Ramalho e Vanderlei Luxemburgo. Dá pra acreditar?

PS – A gente precisa diferenciar a seleção e sua preparação e a organização da Copa. São dois assuntos. A derrota do time da CBF não reflete a organização do Mundial como evento. Este seria um outro assunto (embora também passível de questionamentos). 

 

Copa sem bola

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Na minha Copa não tem bola. Nada de apito do árbitro, jogadas de efeito ou gritos de gol, gente gritando… Apenas algumas notícias, comentários e torcida.

Até gosto de futebol. Também acho bonito o espetáculo do Mundial de seleções. Porém, há muito tempo deixei de ter paciência para ficar duas horas diante da TV. O rádio ainda me atrai. Mas, no máximo, como acompanhante.

Deixar de assistir aos jogos não é uma opção política, ideológica. Não estou contra a seleção. Nem mesmo os problemas de organização, os desmandos dos governos na execução das obras me fariam torcer para dar tudo errado.

Entendo que o futebol tem encanto. Milhões são torcedores. E embora a seleção seja a CBF e não um país, as emoções se misturam e ver a equipe de Felipão como vitoriosa seria um presente para o povo brasileiro. Além disso, o custo da Copa já é alto demais para que o título fique nas mãos dos “adversários”. A gente não merece mais uma derrota.

O título é apenas simbólico. Não significa ganhos reais. Mas representa sorrisos, certa satisfação, orgulho… E a Copa acontece na nossa casa. Então não tem por que desejar que dê tudo errado. Se der errado, a CBF perde alguns milhões de dólares, a Dilma talvez siga sendo sufocada pela onda de mau humor… Entretanto, a entidade que comanda o futebol nacional continuará explorando a paixão nacional. E a máquina pública (inclusive o PT) seguirá seu rumo, como sempre aconteceu. Quanto ao povo? Também não terá perdas reais. Porém, verá escapar um título que poderia ser do futebol brasileiro. Ficará com o ônus da organização da Copa e terá reforçada a “síndrome de patinho feio”, por sequer ter dado conta de conquistar o hexa em casa.

Portanto, mesmo sem bola rolando na minha Copa, torço para que as coisas funcionem. E sem ver o futebol, dedico meu tempo ao trabalho, aos estudos… Acho que isso é ser patriota, sem ser inconsequente.  E sonho com um dia em que a gente, como povo, seja menos passional. Saiba separar as paixões do que realmente importa. E invista melhor o tempo que temos. Quem sabe a gente cresça de fato e não tenhamos mais que lamentar por desmandos como os vistos nessa Copa. Afinal, o que hoje gera revolta só é resultado de uma cultura indolente, imediatista, paternalista e de troca de favores.

A lista de Felipão

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Não importa quem são eles. Não importa o que fizeram ou o que estão fazendo. O que se espera deles é comprometimento, desejo de vencer. Queremos resultados. É claro que temos nossa própria lista. Por isso, nem sempre concordamos com os convocados que vão defender o Brasil na Copa. Também por isso, se o título não vier, Felipão é candidato a vilão. Hoje, é uma das figuras mais badaladas na imprensa. Inclusive no mercado publicitário. Vende de carros a bebidas. Mas tudo pode mudar após um único tropeço.

Sim, nós somos assim. Transformamos heróis em vilões. Não lembramos a história. Esquecemos o passado de glória. E vale pra tudo. Vale para o técnico de futebol. Vale para o cidadão comum que sempre foi exemplo de homem de bem, mas, num momento qualquer, errou; e ao errar, tornou-se a pior pessoa do mundo.

Temos esse hábito. Um mau hábito. Julgamos, avaliamos, classificamos, rotulamos. As pessoas devem corresponder às nossas expectativas. Não toleramos o fracasso, a queda. Não queremos saber os motivos. Importa o que entendemos que é certo, o que achamos que deveria ser feito… segundo os nossos critérios – critérios estes que mudam de acordo com nosso humor ou nossos pré-conceitos.

Hoje e pelos próximos dias, Felipão e seus convocados serão o foco de nossos comentários. Cada atitude deles será alvo de nossas críticas. Não conhecemos essas pessoas, suas motivações, seus interesses. Desconhecemos o caráter e o que vai na alma. Isso, porém, pouco significa. Pra nós, apenas os resultados fazem sentido. É isso que se espera deles. É isso que esperamos das pessoas. Nos concentramos naquilo que projetamos para o outro, para o que supomos que podem ou devem fazer. É pequeno demais da nossa parte, mas é assim que preferimos ser.

Brasileirão 2012: os cinco últimos jogos

Reta final do Campeonato Brasileiro. Embora não seja de assistir jogos, tenho meus favoritos na disputa. O título, porém, está nas mãos do Fluminense. Mas e a Libertadores? E o rebaixamento? O Palmeiras cai?

Penso que, para a Libertadores, resta saber, dos cinco primeiros colocados no Brasileirão, quem fica de fora: Grêmio, São Paulo ou Internacional? O Galo ainda pode sair do G4? Será que os mineiros tiram o título dos cariocas? O Vasco, pra mim, já está fora da briga por vaga na competição continental.

Quando a gente olha os próximos jogos, é impossível não fazer projeções. Veja os confrontos e faça suas apostas. Faltam só cinco rodadas.

(4/11) São Paulo X Fluminense
(11/11) Palmeiras X Fluminense
(18/11) Fluminense X Cruzeiro
(25/11) Sport X Fluminense
(02/12) Fluminense X Vasco

(4/11) Coritiba X Atlético Mineiro
(11/11) Vasco X Atlético Mineiro
(18/11) Atlético Goianiense X Atlético Mineiro
(25/11) Botafogo X Atlético Mineiro
(02/12) Atlético Mineiro X Cruzeiro

(3/11) Grêmio X Ponte Preta
(11/11) Grêmio X São Paulo
(18/11) Portuguesa X Grêmio
(25/11) Figueirense e Grêmio
(02/12) Grêmio X Internacional

(4/11) São Paulo X Fluminense
(11/11) Grêmio X São Paulo
(18/11) São Paulo X Náutico
(25/11) Ponte Preta X São Paulo
(02/12) São Paulo X Corinthians

(4/11) Náutico X Internacional
(11/11) Ponte Preta X Internacional
(18/11) Internacional X Corinthians
(25/11) Internacional X Portuguesa
(02/12) Grêmio X Internacional

(4/11) Palmeiras X Botafogo
(11/11) Palmeiras X Fluminense
(18/11) Flamengo X Palmeiras
(25/11) Palmeiras X Atlético Goianiense
(02/12) Santos X Palmeiras

PS – O Atlético Mineiro ainda tem um jogo em atraso. Nessa próxima quarta-feira, 31/10, contra o Flamengo.

Esta é minha última chance

O que você faria se tivesse uma última oportunidade de acertar?

Por escolhas erradas, por coisas que nem sempre tinha controle… você se perdeu na vida e agora tem uma única oportunidade de recomeçar. Qual seria sua atitude? Qual seria sua escolha?

Pensava nisto após ver a frase dita pelo atacante Adriano:

Posso dizer que esta é a minha última chance.

Adriano fez um monte de bobagens e está num momento decisivo da carreira. Aos 30 anos, sem jogar bem há quase dois anos, foi contratado pelo Flamengo. Vai ganhar por produtividade. E só tem até o fim do ano para mostrar que ainda é o “imperador”. Se falhar, será o seu fim.

O atacante está desacreditado. Talvez apenas a torcida do Flamengo ainda o tolere. Pouca gente gostaria de ter Adriano em seu clube. Mas o rubro-negro o aceitou de volta. Porém, num contrato de risco – muito mais para o atleta que para o clube.

Eu não sei o que se passa na cabeça de Adriano. Mas fico imaginando como me sentiria se estivesse numa situação semelhante. Como reagiria se descobrisse que essa é minha última chance?

Acho que a gente passa pela vida sem se dar conta de muito do que faz. Trabalha, estuda, se relaciona… mas não nota que cada oportunidade é única. E que cada uma delas representa um caminho sem volta.

Fracassos e sucessos nos acompanham. E é o que temos no fim da existência que, por vezes, diz o que significou nossa existência.

Talvez chegue um dia que a gente perceba que aquela é a última chance. Talvez a oportunidade chegue e a gente nem vai saber que não agarrou a chance que teve.

Em algum momento da vida, talvez descubramos que deixamos escapar as oportunidades de construirmos um relacionamento feliz, uma carreira de sucesso… Perdemos as chances de fazermos amizades verdadeiras, lermos bons livros, assistirmos bons filmes, prestigiarmos grandes espetáculos… Desperdiçamos tempo, dinheiro… pessoas. Felicidade.

Para não correr o risco de jogarmos fora a vida – que é única -, quem sabe a melhor forma de viver ainda seja experimentar tudo com intensidade. Mergulhar na vida. Mas com responsabilidade.

Jogadores: profissionais ou mercenários?

Enquanto lia a Folha de São Paulo, esbarrei numa crítica feita por um leitor à premiação que será dada pela CBF aos jogadores do Brasil, caso a seleção conquiste o inédito ouro olímpico. A lógica do sujeito é bastante simples: os atletas deveriam ter prazer em vestir a camisa amarela e defender o país. Para o leitor, brigar pelo título é uma obrigação patriótica.

Eu achei curioso o comentário. Fiquei pensando no que ele disse. Algumas perguntas surgiram:

– Defender a seleção brasileira é defender o país?
– Conquistar um título olímpico é obrigação do atleta?
– O jogador deve defender a seleção por prazer?
– Jogador de seleção não deve ser remunerado por isso?

Olha, eu entendo que o jogador convocado deve sentir-se honrado. Também penso que, em campo, deve dar o melhor de si. Concordo que precisa estar comprometido com o grupo e brigar por títulos. Entretanto, a seleção brasileira não é a nossa seleção. Ela é da CBF, uma entidade privada e altamente lucrativa.

Quem joga pelo Brasil não joga pela nação. A tese do patriotismo, de um grupo de atletas como representantes de um país, é apenas uma estratégia de mobilização das massas. Nós, torcedores, nos sentimos parte. Há um apelo para isso. E nós somos seduzidos por esse apelo, pois vibramos, choramos, rimos juntos com o time. No entanto, a seleção não é do povo. Não atende uma demanda pública e social. Ela faz parte de um mercado, um mercado específico, mas tão voltado para o capital quanto qualquer empresa.

Mesmo numa competição, como as Olimpíadas, a demanda do esporte não é pela saúde, pela competição, pela representatividade de uma nação. A competição segue uma lógica de investimentos, patrocínios… e algumas milhares de pessoas são diretamente beneficiadas com os lucros resultantes do evento. O país-sede até pode ser beneficiado. Mas ainda assim não se pode ignorar os investimentos bilionários feitos para receber o evento. E nem o fato de que o país – representado pelo Estado – pouco – ou nada – pode interferir na organização da competição.

E neste contexto quem são os atletas? São profissionais. São os operários do espetáculo. São eles que dão o show, que resulta em grandes públicos nos estádios, arrecadações milionárias, audiências impressionantes na televisão, patrocínios significativos para confederações esportivas etc etc. Então, por que não devem ser remunerados? Por que devem jogar apenas pelo prazer? Qual a justificativa para gerarem lucro para entidades como a CBF e não receberem por isso?

O tempo da prática esportiva por paixão já passou. Hoje, os atletas são profissionais. Entram em campo, entram em quadra, mas querem ser pagos por isso. Essa é a lógica que faz funcionar a engrenagem do mundo capitalista. Não seria diferente no futebol, no vôlei, no basquete e em nenhum outro esporte.

O Corinthians está com jeito de campeão

Desculpa aí, mas vou falar de futebol…

Tem alguma coisa diferente neste time do Corinthians. Não sou do torcedor do time. Bom, sou sim. Torcedor do contra. Se é o Corinthians, torço contra.

Porém, é preciso reconhecer: a equipe do técnico Tite está com cara de campeã.

Não está invicta na Libertadores por pura sorte. Nem terminou a fase de classificação do Paulista em primeiro apenas porque o São Paulo perdeu na última rodada.

O time tem méritos. E joga sério. Mesmo quando o adversário é ruim. Como aconteceu ontem, diante do Deportivo Táchira.

O grupo parece focado, objetivo. Faz o simples, com seriedade. Isso é coisa de time campeão. Ganha de meio a zero, mas ganha. E quando marca seis, ganha sem fazer graça.

Posso estar errado, mas só um desastre tira esse time da disputa pelo título. O Corinthians ainda vai dar muito trabalho neste ano aos adversários.

Atualizado (Domingo, 22/4) – A torcida contra está dando certo… O Corinthians já está fora do Paulista. Foi eliminado pela Ponte Preta, em pleno Pacaembu. Três a dois pra Macaca.