Um voto de confiança ao Dunga

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Antes de ser questionado, quero que o amigo e leitor saiba de uma coisa: defendo um técnico estrangeiro para comandar a seleção brasileira; e isso antes mesmo da contratação de Felipão em 2012. Penso que o futebol do país está atrasado e não temos treinadores para colocar a equipe da CBF de volta ao topo do mundo.

Feito o esclarecimento, vamos ao que temos de fato: o retorno de Dunga. A primeira grande pergunta que os torcedores deveriam fazer é: porque odiamos o Dunga? O Fantástico mostrou nesse domingo, 20, que cerca de 85% dos torcedores rejeitam o técnico na seleção. Quando o nome do capitão do tetra apareceu como provável substituto de Felipão, a rejeição “bombou” nas redes sociais. Mas por que isso?

Durante os quatro anos de Dunga na seleção, o Brasil nunca mostrou um futebol encantador. Eu mesmo pedi várias vezes a saída dele. Porém, duas coisas são certas: primeira, desde que comecei a acompanhar futebol, com exceção de algumas partidas, nunca vi o Brasil jogar bonito de verdade e, segunda, os números do treinador no comando da seleção são bastante positivos (em 59 partidas, apenas seis derrotas; e dois títulos em quatro anos).

Eu comecei a acompanhar futebol por volta dos anos 1990. Não vi as equipes treinadas por Telê Santana. Ou seja, a primeira Copa que acompanhei de fato foi aquela em que o Brasil foi eliminado pela Argentina. Curiosamente, naquele ano, Dunga foi crucificado como o responsável pela seleção ter caído ainda nas oitavas. Sinceramente, em nenhum momento aquela seleção me encantou. Depois veio Falcão no comando técnico. Foi um “deus-nos-acuda”. A tal renovação fez a gente ser saco de pancadas. Falcão foi demitido e Parreira assumiu. E como foi o time brasileiro? Horroroso! A gente sofria demais. Classificamos para Copa de 1994 na última hora. Um sufoco. Mas o futebol de resultados ganhou o título. Zagalo ficou com o comando da seleção. Nada mudou. E a saga terminou nos 3 a 0 para a França em 1998. Depois veio Luxemburgo, Leão… A torcida sofria, sofria. E a seleção raramente fazia um jogo empolgante. Com tantas decepções, veio Felipão. Que ganhou o título de 2002, mas também nada de futebol-arte. Na seqüência, mas Parreira… Depois Dunga, Felipão de novo…

Bom, estou retomando a trajetória do Brasil só para lembrar uma coisa: o tal futebol espetáculo, ou futebol-arte, faz tempo que é só história mesmo. Então não dá para acreditar que Tite, Abel Braga ou Muricy mudariam essa realidade. Nenhum deles é brilhante. Sem contar que nos faltam jogadores para isso.

Quanto ao Dunga, ele não é melhor que nenhum desses três aí. No entanto, nenhum deles também representa grandes mudança ou é tão melhor. Tecnicamente, podem ser mais preparados; mas em experiência em competições com a seleção, Dunga tem larga vantagem (muitos anos como jogador e outros quatro como técnico).

Muita gente lamenta a não contratação de Tite, o ex-técnico do Corinthians. E eu também acho, pelo cenário atual, que ele merecia uma chance. Porém, Tite é bonachão… Manteria as portas abertas para a Globo, aceitaria as invasões de celebridades e, semelhante a Felipão (e até Dunga), é fiel aos seus jogadores. Foi isso que o afundou em 2013 no Corinthians. Não renovou e… dançou. Poderia revolucionar a seleção? Dificilmente.

Então, por que Dunga não pode retornar? Vamos voltar a primeira pergunta: por que o Brasil o rejeita?

É você que tem argumentos para rejeitar o Dunga ou esse sentimento foi criado aí dentro? 

Se a seleção não joga bonito há décadas, se mesmo jogando feio, o grande fracasso de Dunga foi a eliminação diante da Holanda em 2010, por que ele não pode voltar?

Posso estar errado, mas penso que as verdades sobre Dunga são verdades construídas. Crucificaram o ex-técnico naquela eliminação. Com problemas sim, mas o Brasil fazia uma Copa na África mais regular e bem menos dramática do que fez aqui no Brasil. A seleção principal, sob comando dele, nunca foi humilhada. Mesmo diante da Holanda, a equipe fez um excelente primeiro tempo. Vencia a partida. Sofreu a virada no segundo tempo, mas deixou o mundial sem ser envergonhada. Além disso, perdeu para quem foi vice-campeã naquele ano, e terceiro lugar agora, justamente contra a nossa equipe – com a diferença que desta vez foram 3 a 0. Ou seja, é preciso reconhecer que Dunga tem suas qualidades. E fome por vitórias.

No futebol, pela paixão que o povo tem pelo esporte, quando o Brasil perde, busca-se um culpado. Dunga foi culpado duas vezes: em 1990, como jogador; em 2010, como técnico. E pela maneira dura, raivosa com que tratou a Rede Globo, as notícias negativas contra ele foram amplificadas. Dunga não foi poupado. Não houve distanciamento na análise de seu trabalho (não muito diferente do que está acontecendo agora com o Felipão; a diferença é que pelo menos Felipão foi simpático com a grande imprensa e isso dá certo crédito ao treinador). Não foi a eliminação de 2010 que hoje deu – e dá – argumentos à rejeição absurda a Dunga. A rejeição é um sentimento construído. Potencializado sim por fatos, mas que não são a medida, não representam a totalidade do trabalho dele no comando do Brasil.

Penso que estatísticas não vencem jogos. Passado não constrói futuro. Porém, Dunga foi personagem da virada em campo. Foi do inferno em 1990 ao paraíso em 1994. Será que não pode se superar também como técnico?

PS- O texto apenas se propõe a fazer pensar. Parece-me que, além da rejeição ao Dunga ser efeito do discurso midiático, a decepção com o fracasso do futebol brasileiro não está gerando um debate equilibrado.

A lista de Felipão

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Não importa quem são eles. Não importa o que fizeram ou o que estão fazendo. O que se espera deles é comprometimento, desejo de vencer. Queremos resultados. É claro que temos nossa própria lista. Por isso, nem sempre concordamos com os convocados que vão defender o Brasil na Copa. Também por isso, se o título não vier, Felipão é candidato a vilão. Hoje, é uma das figuras mais badaladas na imprensa. Inclusive no mercado publicitário. Vende de carros a bebidas. Mas tudo pode mudar após um único tropeço.

Sim, nós somos assim. Transformamos heróis em vilões. Não lembramos a história. Esquecemos o passado de glória. E vale pra tudo. Vale para o técnico de futebol. Vale para o cidadão comum que sempre foi exemplo de homem de bem, mas, num momento qualquer, errou; e ao errar, tornou-se a pior pessoa do mundo.

Temos esse hábito. Um mau hábito. Julgamos, avaliamos, classificamos, rotulamos. As pessoas devem corresponder às nossas expectativas. Não toleramos o fracasso, a queda. Não queremos saber os motivos. Importa o que entendemos que é certo, o que achamos que deveria ser feito… segundo os nossos critérios – critérios estes que mudam de acordo com nosso humor ou nossos pré-conceitos.

Hoje e pelos próximos dias, Felipão e seus convocados serão o foco de nossos comentários. Cada atitude deles será alvo de nossas críticas. Não conhecemos essas pessoas, suas motivações, seus interesses. Desconhecemos o caráter e o que vai na alma. Isso, porém, pouco significa. Pra nós, apenas os resultados fazem sentido. É isso que se espera deles. É isso que esperamos das pessoas. Nos concentramos naquilo que projetamos para o outro, para o que supomos que podem ou devem fazer. É pequeno demais da nossa parte, mas é assim que preferimos ser.

Jornalista pode torcer para a Seleção Brasileira?

A pergunta não é minha. É do jornalista Renan Justi. O texto dele está no Comunique-se.

Trago a discussão para meu blog não com o objetivo de falar da posição do jornalista brasileiro diante da seleção. Quero pensar além da seleção; além do futebol.

Jornalista é uma pessoa como outra qualquer. Não adianta imaginá-lo distante dos fatos. Ele se envolve. Sente.

Por isso, pedir que um jornalista não seja um torcedor é ignorar que todos temos emoções. Vale o mesmo diante de um acontecimento político, por exemplo. Ou uma catástrofe natural.

O que diferencia – ou pelo menos deveria diferenciar – um profissional da comunicação do público em geral é sua capacidade de manter um olhar distanciado a ponto de ver acertos e erros. Mais que isso, um jornalista precisa perceber qual o seu envolvimento com o fato e até que ponto suas emoções podem ou não impedi-lo de fazer uma abordagem responsável.

No caso da seleção, o profissional pode ser torcedor, mas não deve permitir que os acertos da equipe em campo o impeçam de ver a sujeira dos bastidores do futebol; na política, pode ser eleitor do José Serra, mas não deve deixar de notar os avanços obtidos com o governo Dilma/Lula. O inverso também é verdadeiro.

Entretanto, o jornalista só dá conta disso quando reconhece sua importância social. Não é seu papel aplaudir. Ele é o mediador entre o fato e o público. Se permitir que suas emoções interferirem na sua capacidade de apresentar a notícia ao público, necessita repensar se está no lugar certo, fazendo a coisa certa.

Boa sorte, Mano Menezes

Hoje é a estreia de Mano Menezes no comando da seleção brasileira. O ex-técnico do Corinthians tem a missão de renovar a equipe. Mais que isso, fazer o time encantar o torcedor. Não é tarefa simples. Há muito tempo não vemos o Brasil jogar um futebol envolvente, empolgante.

Cá com meus botões, recordo de alguns poucos jogos. Por exemplo, nas últimas eliminatórias, a vitória da seleção sobre a Argentina (3 a 1); os 3 a 0 sobre a Itália, na Copa das Confederações do ano passado; a goleada também sobre a Argentina na final da mesma copa, mas em 2005… Enfim, são partidas que recordo. Ah… tem a goleada contra Portugal, num amistoso em Brasília, em 2008. Seis a dois.

Torço por Mano Menezes. Desejo-lhe sorte. Mas não acredito muito na proposta de um “futebol alegre”. Ele deixou de existir há muito tempo. As seleções que venceram os Mundiais de 2002 e 1994 foram eficientes, mas não brilharam. As equipes derrotadas neste ano, em 2006, 1998 e 1990 também não encantavam. A impressão é que o tal do futebol arte, que tanto se fala por aqui, é só recordação de um passado que não volta. Se Mano Menezes conseguir resgatá-lo, e ainda tornar essa equipe vencedora, merecerá ser chamado de mágico, herói ou qualquer adjetivo semelhante.

Notas do esporte: timão ganha novo técnico

NOVO TÉCNICO
O Corinthians apresenta hoje o novo técnico. Adilson Batista assume a equipe, substituindo Mano Menezes, que ontem divulgou a primeira lista de convocados da seleção brasileira.

E A SELEÇÃO?
A nova seleção de futebol tem novidades. E apenas quatro jogadores que disputaram a Copa do Mundo. Neymar e Ganso estão entre os convocados.

VALDIVIA
O Palmeiras está mais próximo de anunciar o retorno de Valdivia. O clube já acertou a liberação com o time dos Emirados Árabes. Mas o retorno do atleta ainda depende de acertos contratuais.

LIBERTADORES
E amanhã tem o primeiro confronto entre Internacional e São Paulo pela Libertadores da América. O Colorado entra como favorito em campo. Enquanto o time gaúcho venceu as últimas quatros partidas pelo Brasileirão, o tricolor do Morumbi perdeu três e empatou uma.

Boa sorte, Muricy

Impossível não dizer que o assunto de hoje, em qualquer lugar, é o anúncio do novo técnico da seleção. Surpreendendo muita gente, inclusive este blogueiro aqui, a CBF fechou com Muricy Ramalho. Até dois anos atrás, o treinador era nome inquestionável. Mas veio 2009, um novo fracasso no São Paulo (Libertadores), as dificuldades no Palmeiras e Muricy deixou de ser o favorito ao cargo.

Comandando o São Paulo, Muricy faturou três Brasileirões
Agora, o comandante do Fluminense vai ter de deixar as Laranjeiras. Mas deixa o clube na liderança do Brasileirão. Não é pouco, principalmente porque a equipe não tem o melhor elenco, muito menos a infra-estrutura de um São Paulo, de um Cruzeiro etc.

Muricy vai dar certo na seleção? Difícil dizer. Tem qualidade para isso. Apesar de não ser o meu favorito ao cargo, ainda acho que está entre os melhores treinadores do país. Porém, não gostaria de estar na “pele” dele. Muricy vai apanhar muito. Ele é nervoso, meio turrão, impaciente com a imprensa. E a pressão de ser a seleção do país sede da Copa vai pesar muito.

Se for bem sucedido, e chegar até 2014, Muricy se tornará herói. Vai entrar para história como o técnico que levou o Brasil ao hexa, e jogando em casa – no Maracanã, mesmo estádio onde o time de 1950 perdeu para o Uruguai a chance de conquistar o primeiro título. Se o time brasileiro for eliminado durante a competição, Muricy talvez tenha que esquecer o futebol.

Atualizado, às 16h30 – O Fluminense está fazendo jogo duro. Não quer liberar Muricy. Já se fala que o técnico vai recusar o convite da CBF.

E o técnico da seleção brasileira?

Circulando pelos sites e blogs especializados em esporte, sigo notando as especulações em torno do próximo treinador da seleção brasileira. Dá para notar que há pouca chance de Felipão reassumir o Brasil. Particularmente, entendo que o técnico deve mesmo se dedicar ao Palmeiras. Já ganhou uma Copa. Tem prestígio. Não precisa encarar a pressão de ser o comandante da seleção. Mas quem deve assumir? Ao que parece, Mano Menezes cresce na preferência da CBF e dos próprios torcedores. É o melhor? Difícil dizer. Mas talvez seja quem esteja no seu melhor momento.

Quem será o novo técnico da seleção?

Sexta-feira disse aqui que o melhor da Copa vem depois da eliminação do Brasil. A gente discute novo técnico, novos jogadores… enfim, renovação. E eu gosto de mudanças.

No caso do futebol, queria que as mudanças começassem com a saída de Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Essa figura não faz bem para o futebol brasileiro. Mas esse senhor já se apropriou do cargo e não o larga de jeito nenhum. Então, o negócio é se contentar com as mudanças na comissão técnica.

Dunga já foi. Inclusive tem resposta dele a Teixeira em carta aberta. O presidente da CBF, por sua vez, quer um treinador que renove a equipe e aposte em jogadores que hoje têm entre 18 e 20 anos. Ainda quer que o futuro técnico não seja liberal demais como Parreira e nem “militar” como Dunga. Difícil, hein?

Agora, quem é esse cara?
Felipão? Se eu fosse ele, não aceitava.
Mano Menezes? Até me agrada.
Ricardo Gomes? Uma possibilidade.
E que tal Dorival Júnior, o cara que fez os meninos da Vila jogarem? Está aí… uma aposta.

As revistas da semana

VEJA: – Traição, orgias e horror. O sumiço da ex-amante do goleiro Bruno, do Flamengo. Lula em campanha: os fins de semana agora serão para Dilma Rousseff. Saúde, por que a assistência médica sobe acima da inflação. E ainda na edição da Veja, a Fifa vai discutir tecnologia no futebol.

ÉPOCA: – Os segredos da vida longa. Cientistas descobriram os genes da longevidade. Como isso pode nos ajudar a chegar aos 100 anos (até você que não gosta muito de exercícios e curte uma friturinha). O descontrole que leva à derrota. Focados até o limite no hexa, Dunga e seus “guerreiros” não conseguiram reagir quando as coisas começaram a dar errado. Que lições extrair para 2014? O segundo Dirceu. Com acesso a gabinetes e recursos em Brasília, Zeca, o filho de José Dirceu, prepara-se para sair do Paraná e suceder o pai na Câmara dos Deputados.

ISTO É: – Sexo, violência & futebol. Os bastidores da conturbada relação de Eliza Samudio, desaparecida há 20 dias, e do goleiro Bruno, que a polícia suspeita de ter cometido sequestro e homicídio. Vários caciques e um índio. As confusões dos chefes do PSDB e do DEM para a escolha do vice de Serra mostram os improvisos de uma campanha sem discurso. Um futuro para superdotados carentes. Como entidades ajudam crianças de baixa renda com inteligência acima da média a desenvolver seu potencial.

CARTA CAPITAL: – A mão de Lula. O plebiscito vai se confirmando e o presidente transfere votos acima do que muitos imaginavam. Mundo real. Para José Gabrielli, presidente da Petrobras, o fim dos combustíveis não renováveis está longe.

Em defesa de Felipe Melo

Adoramos apontar um culpado. É da nossa natureza. E, na eliminação do Brasil, ao que parece Felipe Melo será o responsável por deixarmos o Mundial da África do Sul. Ainda não encontrei ninguém que o defendesse. Então, vou propor uma breve reflexão: o volante se auto convocou? Ele obrigou alguém a colocá-lo entre os titulares? Claro que não. Logo, Felipe Melo, mesmo tendo falhado nos lances dos gols da Holanda e tendo feito por merecer as expulsões, não pode ser apontado como o culpado pela derrota.

Maquiavel, em O Príncipe (uma das obras de cabeceira do técnico Dunga), diz que o príncipe (o líder, o governante… o técnico, o presidente da CBF etc) é responsável pela escolha dos seus servos, daqueles que vão atuar em posições estratégicas. Segundo o pensador, quem governa responde pelo governo. Não pode transferir culpa aos subalternos. Afinal, estes foram escolhidos por ele.

Se Felipe Melo foi um desastre, o estrago poderia ser evitado por aqueles que o escolheram para defender a seleção. Ele falhou. Mas a torcida não pode crucificá-lo por não ser bom o suficiente para representar o time brasileiro.