Tenho me encantado com Riobaldo, de Grande Sertão Veredas. Na verdade, quase não paro na história. Viajo pelas reflexões, pela filosofia de Guimarães Rosa refletida nas falas do personagem.
Na verdade, minha leitura é quase sempre esta… Raramente fico na história. Gosto mesmo é de observar o que é possível aprender a partir dali. Observo as frases cheias de ensinamento… São elas que grifo.
Como não viajar com esses ensinamentos?
“Eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo… Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. […] Para pensar longe, sou cão mestre – o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!”
Sei que ninguém pensa sozinho… Mas a autonomia do pensamento é possível, quando desenvolvemos a capacidade de olhar mais longe, de desconfiar dos pensamentos dominantes, daquilo que a maioria diz que é o certo… A gente pensa por si mesmo quando ouve, mas não toma aquilo que ouviu como verdade. A gente problematiza, questiona, investiga… Isso é rastrear as ideias!
Ou ainda…
“Todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura”.
O autor mais uma vez provoca… Não se trata da existência ou não de uma divindade. Trata-se de ter algo em que se apegar, ter um norte, uma referência… Ter fé para dar conta da própria existência.
Entre tantos outros ensinamentos, Guimarães Rosa lembra que “viver é perigoso”. Ainda quando queremos o bem, se o queremos com força demais, podemos causar o mal. Isso, porque cada pessoa entende o bem do seu jeito, lê o mundo ao seu modo… E, ao tentar consertar o mundo ao seu modo, pode machucar o outro, ferir, entristecer…
Deveríamos aprender com o velho Guimarães Rosa…