Pais, conversem com seus filhos!

Quase todos os dias vejo sinais do quanto os pais estão afastados da vida de seus filhos. Ainda esta semana, estava com minha filha e com a Rute num restaurante da cidade e, na mesa ao lado, tinha uma mulher com a filha. A garota era adolescente. Talvez uns 16, 17 anos. Todo o tempo que estiveram ali, ao lado, não trocaram uma única palavra. E durante boa parte do almoço, essa mãe mexia no celular. Dava pra notar que escrevia, mas também que apenas espiava mensagens, fotos… Elas pareciam duas pessoas estranhas. Não havia intimidade alguma entre mãe e filha.

Bom, eu não as conheço. Não sei quem são. Talvez tenha sido apenas um dia difícil para aquela mãe. Talvez estavam chateadas uma com a outra. Coisas que acontecem, né? Ainda assim, a ausência de diálogo entre as pessoas de uma mesma família é algo assustador. Muitos pais desconhecem seus filhos. E desconhecem por certa negligência. Falta disposição principalmente para dialogar.

E, sabe, não é fácil conversar com os filhos. Às vezes, o embate é desgastante. Ainda dias atrás, para conseguir tratar de um assunto com minha filha, ficamos até duas horas da manhã numa embate de ideias. E digo embate porque há momentos de tensão, de discordância. Admito que nessas horas parece mais fácil gritar, dizer que “quem manda sou eu”, fechar a porta e sair de cena. Mas o que ganhamos com isso? Nada.

Apesar de discordarmos muitas vezes, minha filha e eu conversamos sobre tudo. Isso acontece porque, apesar de em algumas ocasiões ficarmos irritados um com o outro, nós não fugimos do diálogo. Tem horas que machuca, ofende… Porém, essa é uma relação normal. Necessária! O que não podemos pra fazer é abrirmos mão de dialogar com nossos filhos.

Eu sei que muitas vezes estamos cansados… Que tudo que a gente quer é dar um tempo nos problemas. Mas, com nossos filhos, não dá pra deixar pra depois. Deixar pra depois significa perder oportunidades, abrir mão de uma relação plena, verdadeira com nossos filhos.

Educar dá trabalho? Claro que sim. É a tarefa mais difícil da vida da gente. Mais que qualquer carreira, mais que qualquer estudo, mais que qualquer empreendimento. Entretanto, a mais importante.

Se você ignora as ansiedades de seu filho, estará abrindo mão de ajudá-lo a ser uma pessoa feliz. E posso assegurar: nenhuma realização profissional, acadêmica, compensa as lágrimas de filhos que se sentem perdidos na vida.

Pais ausentes formam filhos frágeis

Nas últimas semanas, muitas pessoas manifestaram suas preocupações com um jogo que circula nas redes sociais. A tal da Baleia Azul gerou inclusive um monte de memes, de piadas… E, claro, certo pânico na rede, com a divulgação de muitas informações falsas.

Algumas pessoas me perguntaram o que eu pensava a respeito jogo. Respondo: não vi o jogo, desconheço os 50 passos. Só sei que culminaria com o suicídio.

Sabe, jogos como esse não me preocupariam nenhum pouco se os pais estivessem presentes na vida de seus filhos.

Sejamos sinceros… Vamos romper com a hipocrisia: nossas crianças, nossos adolescentes estão emocionalmente frágeis. E estão frágeis, quase sempre, porque nós, pais, temos abandonado nossos filhos, não conhecemos nossos filhos.

Amamos sim, mas amamos de um jeito torto. Porque amor bom é amor prático. É amor vivido, experimentado, sentido e manifestado em atitudes.

A adolescência, principalmente, é um tempo de incertezas, de necessidade de auto-afirmação. É um período de transformação. E é um período difícil pra molecada.

A sociedade em que vivemos não é nada fácil. Essa sociedade oferece imagens estereotipadas sobre a vida, sobre o que é ser feliz, sobre o que é ser bem-sucedido, sobre como ter alegrias… Isso tudo confunde, angustia.

E essa garotada (que vive num cenário pouco favorável ao desenvolvimento da saúde mental) ainda tem que enfrentar a ausência dos pais. Não estão ausentes fisicamente, necessariamente. Às vezes até estão ali perto. Porém, sequer conhecem os amigos de seus filhos, sequer sabem o que fazem na internet.

Jogos como a Baleia Azul só preocupam porque os pais não têm sido pais, não têm sido educadores, não têm amado em atitudes.

Muitos pais dizem: “ah… mas eu falo com meus filhos”.
Fala o quê? Fala sobre o quê? Você conversa com eles ou dá sermões?

Conversar implica ouvir. Conversar é dialogar. É conhecer e se dar a conhecer.

E conversar com nossos filhos nem sempre é um ato prazeroso. Muitas vezes temos que engolir sapos. Muitas vezes o que nossos filhos falam machucam nosso coração. Mas conversar é estabelecer um diálogo no mesmo nível. Não é uma fala de cima pra baixo… Em que a gente se posiciona cheio de verdades e impõe tudo aos nossos filhos.

Quem ama não pode ser omisso. Pais de verdade monitoram os filhos sim. Monitoram o que fazem na escola, quem são seus amigos, o que fazem na internet… E também disciplinam. São firmes. Possuem regras e aplicam as regras.

Também conheço pais que acham que amar é dar tudo, é proteger. E ainda tem aqueles que possuem uma imagem distorcida de suas crianças, de seus adolescentes. Acham que são sempre incríveis, maravilhosos… Que tudo que acontece de ruim é culpa dos outros. Por conta disso, brigam com professores, com os amigos de seus filhos… Criam filhos frágeis emocionalmente.

Pais assim não preparam seus filhos para o mundo.

São esses meninos e meninas que podem ser atraídos por jogos como a Baleia Azul. São esses meninos e meninas que se mutilam, que se agridem e agridem outros…

Pais presentes, pais que vivem um amor prático podem ter filhos com crises emocionais. Mas certamente esses filhos e esses pais dificilmente serão vítimas dessas ondas assustadoras que vez ou outra circulam pela internet.

Como manter o casamento após a chegada dos filhos?

pais e filhos

Acho que a maioria casais que conheci, antes de terem filhos, disseram que fariam de tudo para nada mudar depois da chegada das crianças. Apesar da boa vontade e do esforço de muitos deles, desconheço quem não teve o relacionamento impactado pela presença do novo membro na família.

É fato que, antes da chegada dos filhos, a gente quer muito preservar o melhor do romance. Até acha que isso é possível. Mas não dá. A vida do casal muda. E muda muito. Não estou dizendo que o romance esfria, que o amor acaba, que o sexo deixa de existir… Estou dizendo que a dinâmica do relacionamento é significativamente afetada (embora seja fato que, em alguns casos, o romance esfria sim, o sexo se torna raro e até o amor é abalado – claro, essas situações ocorrem com aqueles casais que não se preparam para a chegada dos filhos e que, surpreendidos pelas mudanças, não lidam de forma positiva com as novidades, ignorando a importância de seguir investindo no relacionamento. Mas essa é uma outra história…).

As mudanças ocorrem porque a chegada de uma criança altera a rotina do casal. Antes mesmo do nascimento do bebê, muita energia já é gasta com preparativos (quarto, enxoval, consultas médicas etc.) e o desgaste físico da mulher também é bastante significativo. A última etapa da gestação geralmente é difícil, cansativa. O pós-parto também não é dos mais fáceis. Algumas mulheres, inclusive, sofrem de depressão nesse período.

Esse cenário já seria suficiente para mudar a forma de viver a dois. A vida é feita de rupturas. Quando a gente passa por algo muito intenso durante certo período de tempo, a história de nossa vida é alterada, ganha um novo rumo.

Entretanto, no caso dos filhos, as mudanças vão muito além disso. O bebê pede atenção. Mãe e pai precisam dedicar tempo, atenção, cuidado à criança. Isso rouba noites de sono, tempo… Dificilmente o casal conseguirá fazer os mesmos programas, sair com a mesma frequência ou ter sexo com a mesma intensidade. 

Acontece que, embora os olhares estejam voltados para a criança, ali estão duas pessoas, adultas, que também carecem de carinho, cuidado e, não menos importante, paixão. Não é o fato de se tornar pai ou mãe que faz um homem, uma mulher deixarem de desejar, de sentir tesão e de querer o olhar desejoso do outro. 

Por isso, é preciso estar preparado para viver essa nova fase. Não necessariamente abrindo mãe de viver o melhor de uma vida a dois, mas compreendendo que, muitas vezes, é preciso ter paciência, ser capaz de vez ou outra renunciar os próprios desejos em função de uma nova forma de vida em família. Além disso, é fundamental não se acomodar, não “deixar a vida levar”. É preciso fazer certa “ginástica” para cuidar de si, cuidar do/a parceiro/a… Somente com essa consciência, é possível não deixar a relação cair no lugar-comum de um casamento sem graça e que se justifica apenas pelo fato de um dia ter dito “sim”, pelos “costumes” ou quem sabe pelos próprios filhos.

Quando é preciso estabelecer limites para a sogra

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Não são apenas as dinâmicas internas que afetam o relacionamento. Gente de fora também atrapalha. E, por mais que possa parecer “lugar-comum”, a sogra pode prejudicar e muito o romance.

E deixa eu explicar isso direito… Nem todas as sogras atrapalham. Muito pelo contrário. Existem aquelas que ajudam a preservar o romance. Mas tem muitas que se tornam problema querendo fazer o bem, inclusive.

O homem geralmente é menos afetado pela sogra. Mas a dinâmica nora e sogra tem chance de ser mais problemática. E tudo começa porque a mãe quer continuar cuidando do seu “menino”.

Frequentemente, as mães têm muita dificuldade em se desligarem dos filhos homens. E, quando eles assumem um relacionamento, querem continuar por perto. Mais que isso, começam a observar o que a namorada ou esposa deixa de fazer pelo filhinho.

Sabe a comidinha que ela sempre colocava no prato? Pois é… Às vezes, a parceira nem lembra de cozinhar. Isso, pra muita sogra, é o fim do mundo. Também é o fim do mundo a camisa que não é passada como ela passava…

Tem sogra que se mete com a limpeza da casa, com o tamanho da saia da nora… Olha, a lista pode ficar imensa aqui.

Acontece que o problema se amplifica na mesma medida que o “filhinho da mamãe” não estabelece limites. Sim, porque não é a nora quem coloca limite na sogra. Quem tem que proteger o relacionamento, neste caso, é o filho, é quem tem laço de sangue.

O homem deve, inclusive, entender que a parceira é sua companheira, mas não é sua mãe. É preciso ter maturidade pra isso. Saber reconhecer os papeis e, principalmente, que a vida mudou. Assumir um relacionamento significa abrir mão de algumas coisas, inclusive de certos mimos que só as mães fazem para os filhos.

Quanto maior for o grau de dependência do filho com a mãe (ou com a família), maior é o risco do relacionamento se tornar um campo minado. Quem assume uma relação séria tem que assumir também as rédeas de sua vida, construir a própria história.

Erros dos pais que impedem o crescimento dos filhos

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A superproteção faz um mal danado a molecadinha. Como vimos, pais que se dedicam demais aos filhos e não os deixam enfrentar a vida por si mesmos, impedem-os de serem felizes. Pelo contrário, levam-os a infelicidade. Sem contar nas dificuldades emocionais: ansiedade, dificuldade de lidar com frustrações, ausência de autonomia, baixa autoestima, insegurança… E por aí vai.

Por incrível que pareça, cometemos alguns erros que sequer notamos que estão afetando negativamente nossos filhos. Veja os mais comuns:

Intervir diante das primeiras dificuldades enfrentadas pelas crianças. Tem mãe que, diante do primeiro problema do filho, precisa ir lá socorrer, ajudar. Está errado! E sabe o que é mais curioso? Conheço pais que, mesmo quando os filhos já estão na faculdade, vão na instituição pra brigar com a direção pela nota dada pelo professor. Ridículo!!!

Desde cedo os pais devem permitir que os filhos aprendam a superar situações incômodas. Se os pais (ou outros cuidadores) se apresentam como os “salvadores”, a molecadinha nunca saberá gerenciar seus próprios recursos, administrar seus valores e limitações, e se tornarão pessoas eternamente dependentes (num relacionamento amoroso futuro, isso vira um desastre).

Outro erro comum: dar comidinha pro filho, mesmo quando já consegue comer sozinho. Com a desculpa de que demora demais ou faz muita sujeira, impedem os filhos de desempenharem uma das primeiras atividades que desenvolvem a autonomia.

Os pais também devem permitir que as crianças vistam-se sozinhas. Demora mais? Demora! E muitas vezes fazem bobagem. Mas é algo importante para aprenderem a se virar. Além disso, ajuda-os a fazerem escolhas, combinações… Claro, não deve deixar a criança “mergulhar” no guarda-roupas e pegar qualquer coisa. Pode orientar apontando o tipo de roupa que pode ser usada na ocasião, mas, dentro das peças que possui, deixá-la escolher e vestir-se.

E, para concluir, é fundamental que as crianças aprendam a lidar com a frustração. Os pais têm papel importante nisso, principalmente porque devem usar a frustração, a decepção dentro de uma lógica educativa. Ou seja, precisam ensinar as crianças que perder algumas vezes é natural, porém isso não significa que devam desistir. Pelo contrário, é necessário mostrar o valor do esforço, animá-las a tentar de novo. E, principalmente, ajudá-las a se perdoarem por nem sempre darem conta de realizar determinadas tarefas, por fracassarem. E que são amadas pelo que são, não por suas conquistas, por seus méritos.

Pais não são amigos dos filhos

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Confesso que muitas vezes me sinto tentado a confidenciar certas coisas aos meus filhos. Num tempo em que a gente praticamente não tem amigos, não consegue confiar nas pessoas, os filhos parecem ser “o ouvido” ideal.

Mas não são. Filhos são filhos. Não são amigos.

Na verdade, é um erro mudar a dinâmica do relacionamento pais e filhos. Pais são referência, são exemplo, não são amigos. Com amigo, temos outro tipo de relacionamento. Sei que muita gente usa o argumento “seu pai é seu melhor amigo” ou “sua mãe é sua melhor amiga”, mas, quando isso acontece, perdem os pais, perdem os filhos.

A situação é muito problemática na infância, adolescência e juventude. No entanto, na fase adulta, também há prejuízos.

Antes da maturidade, quando os filhos são feitos confidentes dos pais, atropela-se o bom senso… Eles desconhecem o universo adulto. Não possuem experiência suficiente para ajudar os pais. E o desenvolvimento emocional deles fica comprometido, porque criam expectativas distorcidas do que é a vida adulta. Além disso, esse tipo de dinâmica, aprisiona os filhos. Impede-os de ter novas experiências.

Lamentavelmente, as confidências muitas vezes estão voltadas para o que acontece entre o pai e a mãe. O pai fala da mãe para o filho… A mãe fala do pai… E a criança fica no meio das frustrações do casal. O filho acaba ocupando o papel que seria do cônjuge, de um amigo, de um terapeuta. E sabe o que é pior? Muitas vezes, o filho toma partido de um deles e desenvolve sentimentos negativos. Outra consequência se dá quando o filho cresce e vai ter seu próprio relacionamento… O namorado, a namorada passam a ser referenciados pelas experiências vividas no casamento dos pais.

Os pais podem e devem falar dos seus problemas com os filhos. Se está triste, se anda com dificuldades no trabalho… Mas não dá para pedir colo. As conversas precisam ser numa perspectiva educativa. Até para mostrar que também falham, fracassam, se frustram.

Filhos também carecem de liberdade para falar com os pais. Contar seus dilemas, pedir orientação. Os pais podem ser bacanas, divertidos… Entretanto, os pais estão ali para acolher, disciplinar, conter. O papel de amigo é um; o de pai e mãe, é outro. Quando os papeis se confundem, a hierarquia é quebrada. Pode se perder o respeito e a autoridade.

A relação entre pais e filhos deve ter muito afeto, aceitação, perdão. Mas amizade é uma relação entre iguais. Presume-se mais que confidências. Entre amigos, a gente desabafa, compartilha coisas, faz coisas juntos, fala bobagem… Com amigo, a gente “peca” junto, acerta junto… Amigo interfere sim na vida da gente, mas não determina, não disciplina.

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E mesmo na fase adulta, quando a relação se torna de “amigos”, tudo se confunde. Não demora para a filha estar falando do marido para a mãe… Depois, faz as pazes, se ajeita… Mas os pais acabam ficando “ariscos” com o genro. O inverso também acontece com a nora. Sem contar os casos em que se perdem os limites. Pais, filhos, netos se misturam a tal ponto que começa a faltar respeito. Ninguém cresce.

Numa conversa com a psicóloga Adrina Furlan, ela disse que pais que fazem de amigos os filhos revelam que são incapazes de ter seus próprios amigos. Assim, acabam por “escravizá-los” neste tipo de relação.

Os filhos também se tornam inseguros. É como se os pais se tornassem um “ego externo”. Como não se desenvolveram, não possuem autonomia. Não sabem julgar o que é bom ou ruim para a vida, sempre precisando do aval ou parecer dos “amigos pais” para tudo. E é obvio que isso se torna um grande desastre para a vida.

Aos pais, também não é bom, pois agindo assim nunca verão os filhos como seres separados, independentes, adultos. Passam a vida inteira considerando-os crianças, incapazes de tomar as próprias decisões.

Enfim, por mais que alguns não queiram admitir, os papéis devem estar bem definidos. A Psicologia tem mostrado que a natureza humana reclama esses limites. Entre pais e filhos, há regras, posições distintas. Para o bem de todos e desenvolvimento emocional saudável, pais devem ser só pais.

Filhos e relacionamento

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Muita gente em crise no relacionamento aposta em ter um filho como forma de salvar o casamento. Entretanto, o que essas pessoas geralmente desconhecem é que uma criança, longe de aproximar, pode distanciar o casal.

A maneira como a maioria lida com a chegada de um bebê motiva o esfriamento do romance. Na verdade, para algumas mulheres, principalmente, há certa naturalização do processo: como se o casamento entrasse numa nova fase. Com menos sexo, por exemplo.

Se apostar num filho para salvar o casamento é um erro, outro maior é o cometido por muita gente que aceita o esfriamento do romance, com a chegada de um bebê, como normal. Na verdade, uma criança muda sim a dinâmica do relacionamento, mas não pode ser por muito tempo.

E os casais começam fazendo bobagem logo quando a criança nasce. Muitos colocam o bebê para dormir no mesmo quarto. Alguns chegam ao cúmulo de levá-lo para a cama do casal. Não pode! Como preservar a intimidade?

O casal precisa investir, primeiro, no relacionamento. E isso implica ter espaços muito bem definidos. A criança deve ter o próprio quarto, não ser atendida cada vez que chora… Ela precisa se acostumar a dormir sozinha. Deve crescer entendendo que os pais não giram em torno dela. O romance esfria se não dormem bem, se a criança acorda o tempo todo e, principalmente, se ocupa a cama do casal.

Quando se prioriza o romance, a criança cresce percebendo que os pais têm uma vida a dois. Que existe um tempo dos adultos. Os filhos devem ter horário para ir para o quarto. Não necessariamente para dormir (pode ser para brincar sozinha, para ler…). O casal carece de um tempo só para eles… Para assistir juntos seus programas, para cuidar da intimidade.

A socióloga da Universidade do Texas, Marie-Anne Suizzo, pesquisou casais americanos e franceses. Ela descobriu algo importante: as mulheres francesas não sacrificam a vida sexual pelos filhos. E o motivo é simples: elas entendem que, quando se casaram, escolheram um marido para construir uma vida com ele. Embora os filhos sejam preciosos, um dia vão embora. Restará o casal. Ou nem isso, se perderam-se nessa caminhada por ignorar a importância de preservar o romance.

O que seu filho vê na internet?

filhosDá trabalho ser pai. Não estou dizendo pai no sentido do gênero masculino. Muito menos do papel genitor. Falo da função educativa dos pais.

Dias atrás conversava sobre o assunto. Sustentava a tese que a vida da gente muda. E não apenas pelas horas de sono perdidas no meio da noite. Nem das vezes que se leva ao médico. Tampouco das despesas com roupas, alimentos etc. Muda porque, para a dinâmica funcionar, é necessário envolver-se, deixar de olhar para si mesmo e cuidar de um outro ser.

Essa tarefa não é nada fácil. A gente se ocupa demais da nossa vida. Por vezes, acha que “cuidar” é cuidar do material. Não deixar faltar nada. Colocar nas melhores escolas, oferecer inglês, natação… Garantir os brinquedos mais modernos. Alguns pais até demonstram afeto. Oferecem carinho, atenção.

Entretanto, hoje, isso não basta. Tem que envolver-se e participar do cotidiano dos filhos. Isso significa saber o que a molecada faz na internet.

Teve uma época que precisávamos saber o que os filhos assistiam. Hoje, é fundamental conhecer por onde navegam. Que sites visitam? Que vídeos vêem? Com quem conversam?

Nossos filhos não têm apenas acesso à rede. Eles dominam as tecnologias melhor que nós. Conhecem serviços que desconhecemos. Usam o computador, o tablet, o celular… Baixam programas, aplicativos. Quando paramos cinco minutinhos ao lado deles, ficamos admirados com a habilidade que possuem ao navegar. Ao mesmo tempo, assustados. E por medo do desconhecido, deixamos nossos filhos por conta deles mesmos.

Fora da rede, os consideramos crianças; mas, quando estão na web, preferimos ignorar o que fazem.

Sabe o que é pior? Quando descobrimos que fizeram algo que consideramos errado, disparamos a falar. Gritamos, discursamos, colocamos de castigo. Silenciamos a própria responsabilidade. Afinal, é a falta de orientação que leva nossos filhos a navegarem por portos inseguros.

Até jogos que os pequenos usam nos tablets podem abrir chats para diálogos com desconhecidos. Podemos confiar? Será que o risco é zero? Convenhamos, qualquer moleque com domínio tecnológico desenvolve um aplicativo e coloca na rede. E aí nossos filhos usam…

Não dá mais para ignorar. Precisamos acompanhar, vigiar. Não se trata de proibir. Mas de conhecer e auxiliar nossos filhos com diálogo franco, sincero.

Dá trabalho, né? Porém, é assim que funciona. Quem quer educar direito, deve envolver-se. Do contrário, não pode reclamar depois e ficar se lamentando “onde foi que eu errei?”.

Escolinha de pais

As crianças são maravilhosas, mas educá-las dá trabalho
As crianças são maravilhosas, mas educá-las dá trabalho

Acho que a gente precisava de muitas escolinhas… Pra tudo na vida. Entretanto, uma das mais urgentes seria para os pais. Estudamos para concurso, para nos tornarmos profissionais numa determinada área, fazemos treinamento até para atender o telefone, mas ignoramos a importância de nos prepararmos para educar filhos.

Digo isto porque vejo coisas que me deixam de “cabelo em pé”. A molecadinha dá trabalho, é verdade. Mas quem disse que criar filho é fácil? Ainda mais nos dias em que vivemos. É difícil e requer muita energia. Por isso, quem quer vida fácil não deveria tê-los.

A maioria das pessoas acha que sabe educar. Pensa que é só repetir o que os pais e avós acertaram, evitar aquilo que erraram e a “receita do sucesso” está pronta. Esse é um grande engano. Ignora-se que a realidade histórica é outra. Cada dia é diferente. Cada ambiente traz novas exigências e, por isso, igual a qualquer profissão, ser pai também exige atualização. Por isso, insisto que deveríamos ter escolinha para os pais. Com presença mínima obrigatória e nota de aprovação no final do curso. Não aprovou? Volta pra sala de aula. Enquanto não passa, não faz “festinha” em casa.

Falando sério…

Sei que os pais não fazem por mal. Porém, são responsáveis pelas bobagens cometidas pela criançada, porque não estão dispostos a aprenderem a educar. Os problemas começam desde cedo. Dias atrás, escrevi aqui sobre não colocar a criança na cama do casal. Mas tem muito mais… O que dizer dos pais que não podem ouvir um chorinho do bebê e já o pegam no colo?

E daqueles que preferem as comidas prontas a preparar as primeiras frutinhas, cozinhar legumes, amassar os cereais na fase da introdução aos alimentos?

E a hora de tirar a fralda? Tem pais que brigam com as crianças, humilham… como se elas tivessem nascido “programadas” para, aos dois ou três anos, saberem ir ao banheiro sozinhas.

Outra coisa que me assusta e incomoda bastante é a falta de respeito que se instala entre pais e filhos. Pai que grita com filho vai receber tratamento igual. Foi treinado, teve “escola”, aprendeu assim. Também não entendo o que há de “bonitinho” em deixar o baixinho bater no rosto da mãe, do pai… É engraçado? Nenhum pouco. Está errado. Não pode deixar. A criança bate? O educador contém, segura a mão, fala mais firme. E faz isso quantas vezes forem necessárias. O pequeno não sabe direito o que está fazendo. Mas se as pessoas acham graça, repete o feito.

Sabe, o processo de educar é desgastante. Cansativo, eu diria. Por vezes, é mais fácil deixar a molecadinha “solta”. Transferir a responsabilidade para a escola. Ou culpar o marido, a esposa, a vó… Mas quando alguém tem um filho pressupõe que fez uma escolha. É necessário abrir mão de alguns confortos e, principalmente, empenhar-se no processo de preparar aquele novo ser para o mundo. E nada que a gente faz sem dedicação dá certo. Com os filhos, não é diferente. Por isso, estudar, entender de gente e como funciona a cabeça da molecadinha são os primeiros passos para obter bons resultados.

Pais criminosos: Salve Jorge, a novela e a vida real

Quando um casal se separa, a harmonia inicial vai embora e muitos filhos tornam-se vítimas
Quando um casal se separa, a harmonia inicial vai embora e muitos filhos tornam-se vítimas

De um lado, um pai; do outro, uma mãe. Entre eles, uma criança. Mas esta não une essas duas pessoas. Divide. É motivo de briga, de disputa. E a filha vira vítima. É manipulada.

Esta é a história de César, Antonia e Raissa. São personagens da novela Salve Jorge. Nessas noites mais tranquilas, vi algumas cenas e fiquei assustado. Movido pelo desejo de vingança, César usa a filha para machucar a ex-mulher. Ele ama a filha, mas ignora a importância da mãe na vida da criança. A pequena Raissa torna-se um objeto. Seus desejos, vontades são atropelados. A saudade é ignorada. O pai usa da proximidade para persuadir, convencer e afastá-la de Antonia.

César, Antonia e Raissa são só personagens da trama global. Entretanto, não é difícil encontrar perto de nós pessoas que transformam seu filhos em armas para punir ex-marido, ex-mulher. Na novela, o homem tem o poder. Além da vantagem natural que leva, ainda fica com a filha e a usa para se vingar. Na vida real, quase sempre os filhos ficam com as mães. E isso não é ruim. Mas algumas delas também guardam mágoas. E nem precisam ser traídas. Por motivos diferentes, atrapalham as visitas, colocam os filhos contra os pais, tornam a vida do ex um inferno. E roubam das crianças a chance de um desenvolvimento saudável. Deixam de ser pais, tornam-se criminosos. 

Sabe, casamento acaba. Mas, quando existe um filho na história, o homem e a mulher deixam de ser um casal, mas não deixam de ser pais. E como pais têm o dever de promover o bem-estar da criança. É um crime usar os pequenos, manipulá-los. Crianças não têm maturidade pra isso. É atitude egoísta, mesquinha, irresponsável, pequena demais falar mal do ex ou da ex-parceira para o filho.

Separação dói. Separação machuca. E, para os filhos, não é nada fácil ver os pais se separem. Eles ficam sem chão. E com pais feridos pelo fim do relacionamento, podem se sentirem sozinhos, ignorados ou tornaram-se superprotegidos, mimados demais. Não é fácil encontrar o equilíbrio, a forma certa de sofrer com o casamento que acabou e, ao mesmo tempo, proteger a molecadinha, ajudar os filhos a ter um desenvolvimento emocional saudável. Porém, é preciso querer, esforçar-se. Superar os próprios instintos. Calar a boca quando a vontade é falar do outro, desqualificá-lo. Pelo bem dos filhos, pelo futuro deles, não dá para se inspirar em César…