Pais não são amigos dos filhos

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Confesso que muitas vezes me sinto tentado a confidenciar certas coisas aos meus filhos. Num tempo em que a gente praticamente não tem amigos, não consegue confiar nas pessoas, os filhos parecem ser “o ouvido” ideal.

Mas não são. Filhos são filhos. Não são amigos.

Na verdade, é um erro mudar a dinâmica do relacionamento pais e filhos. Pais são referência, são exemplo, não são amigos. Com amigo, temos outro tipo de relacionamento. Sei que muita gente usa o argumento “seu pai é seu melhor amigo” ou “sua mãe é sua melhor amiga”, mas, quando isso acontece, perdem os pais, perdem os filhos.

A situação é muito problemática na infância, adolescência e juventude. No entanto, na fase adulta, também há prejuízos.

Antes da maturidade, quando os filhos são feitos confidentes dos pais, atropela-se o bom senso… Eles desconhecem o universo adulto. Não possuem experiência suficiente para ajudar os pais. E o desenvolvimento emocional deles fica comprometido, porque criam expectativas distorcidas do que é a vida adulta. Além disso, esse tipo de dinâmica, aprisiona os filhos. Impede-os de ter novas experiências.

Lamentavelmente, as confidências muitas vezes estão voltadas para o que acontece entre o pai e a mãe. O pai fala da mãe para o filho… A mãe fala do pai… E a criança fica no meio das frustrações do casal. O filho acaba ocupando o papel que seria do cônjuge, de um amigo, de um terapeuta. E sabe o que é pior? Muitas vezes, o filho toma partido de um deles e desenvolve sentimentos negativos. Outra consequência se dá quando o filho cresce e vai ter seu próprio relacionamento… O namorado, a namorada passam a ser referenciados pelas experiências vividas no casamento dos pais.

Os pais podem e devem falar dos seus problemas com os filhos. Se está triste, se anda com dificuldades no trabalho… Mas não dá para pedir colo. As conversas precisam ser numa perspectiva educativa. Até para mostrar que também falham, fracassam, se frustram.

Filhos também carecem de liberdade para falar com os pais. Contar seus dilemas, pedir orientação. Os pais podem ser bacanas, divertidos… Entretanto, os pais estão ali para acolher, disciplinar, conter. O papel de amigo é um; o de pai e mãe, é outro. Quando os papeis se confundem, a hierarquia é quebrada. Pode se perder o respeito e a autoridade.

A relação entre pais e filhos deve ter muito afeto, aceitação, perdão. Mas amizade é uma relação entre iguais. Presume-se mais que confidências. Entre amigos, a gente desabafa, compartilha coisas, faz coisas juntos, fala bobagem… Com amigo, a gente “peca” junto, acerta junto… Amigo interfere sim na vida da gente, mas não determina, não disciplina.

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E mesmo na fase adulta, quando a relação se torna de “amigos”, tudo se confunde. Não demora para a filha estar falando do marido para a mãe… Depois, faz as pazes, se ajeita… Mas os pais acabam ficando “ariscos” com o genro. O inverso também acontece com a nora. Sem contar os casos em que se perdem os limites. Pais, filhos, netos se misturam a tal ponto que começa a faltar respeito. Ninguém cresce.

Numa conversa com a psicóloga Adrina Furlan, ela disse que pais que fazem de amigos os filhos revelam que são incapazes de ter seus próprios amigos. Assim, acabam por “escravizá-los” neste tipo de relação.

Os filhos também se tornam inseguros. É como se os pais se tornassem um “ego externo”. Como não se desenvolveram, não possuem autonomia. Não sabem julgar o que é bom ou ruim para a vida, sempre precisando do aval ou parecer dos “amigos pais” para tudo. E é obvio que isso se torna um grande desastre para a vida.

Aos pais, também não é bom, pois agindo assim nunca verão os filhos como seres separados, independentes, adultos. Passam a vida inteira considerando-os crianças, incapazes de tomar as próprias decisões.

Enfim, por mais que alguns não queiram admitir, os papéis devem estar bem definidos. A Psicologia tem mostrado que a natureza humana reclama esses limites. Entre pais e filhos, há regras, posições distintas. Para o bem de todos e desenvolvimento emocional saudável, pais devem ser só pais.

5 comentários em “Pais não são amigos dos filhos

  1. Muito bom seu artigo, realmente pais e mães não são amigos.

    Já cometi este erro de fazer minha filha de uma amiga, não tive bons resultados, hoje sei que errei e em tempo retomei meu lugar de mãe.
    Serve também para professor(a), sou professora e não amiga.

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  2. Eu sou filha no caso e meus pais (tanto mãe qnt pai) me fazem de amiga ou melhor amiga e sufocam é como se eu fosse uma boneca confidente que tem que fazer tudo o que eles querem e ficar distante de tds e desde que o ensino médio terminou eu percebi que nunca fiz coisas de adolescentes de ter amigas confidentes , aquela coisa normal …. e eles me fizeram terminar com meu namorado recentemente e está dificil pra reatar meu relacionamento pq eu sinto que ele não é meu é de todos sabe isso é enlouquecedor. Não sei mais o que fazer

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    1. Que história triste! Desejo que você supere tudo isso! Eu também sou uma garota que não teve uma adolescência “normal” de poder sair com os amigos ou conhecer novos lugares fora da presença de meus pais e, agora, sinto essa necessidade de me integrar neste mundo, de ampliar os meus horizontes e crescer 😉

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