A vida é feita por interrogações e reticências

A gente desenvolve hábitos que nem sabe de onde ou por que surgiram. Tenho mania, por exemplo, de encher meus diálogos de pontos de interrogação e reticências. Eles estão ali como se fossem minha espera por respostas e as incertezas diante da vida.

Embora em alguns momentos a repetição insistente desses sinais gráficos – e geralmente nos diálogos e textos informais são muito reforçados -, eu gosto dos pontos de interrogação e das reticências. Há quase uma razão filosófica para isso.

As interrogações são fundamentais. Só aprendemos por interrogar, por questionar. Quando pergunto, busco respostas. E quando busco respostas, demonstro que estou aberto ao novo.

Não existe nada mais expressivo que um ponto de interrogação. Afinal, para que servem as afirmações? Apenas para termos certezas, convicções e nos acomodarmos, pararmos no tempo.

Costumo dizer que tenho medo das pessoas que têm muitas convicções, que afirmam coisas… Quem não questiona, não cresce. 

as reticências completam esse movimento. Elas sugerem que nenhuma fala está completa. Sempre há espaço para introduzir outros elementos, dizer outras coisas. Porque nenhuma fala se completa. Nenhuma definição é absoluta. A própria linguagem é falha, não dá conta de descrever a realidade, os sentimentos.

Sabe, esses pequenos signais permitidos pela escrita mostram que o mundo, que a nossa vida é maior que tudo aquilo que somos capazes de ver, de verbalizar. Interrogações e reticências apontam para a incompletude do existir.

As dúvidas nos motivam a desvendar os fatos e proporcionar novos conhecimento. As dúvidas não permitem que aceitemos passivamente o discurso pronto que nos chega pela boca do outro.

As interrogações nos movem em busca de respostas. E quando elas surgem, a insistência nas interrogações proporciona a chance de descobrirmos coisas novas, ousadas, diferentes, transformadoras.

As reticências estarão lá para sugerir novas indagações que continuarão a nos mover dando sentido à vida e tornando-a surpreendente a cada dia.

Nenhum relacionamento é fácil

Claro, algumas pessoas são mais fáceis de conviver. Isso é fato. Porém, todo relacionamento implica em embates de gostos, preferências, sonhos… Existe uma disputa (que é saudável e necessária) negociada para que duas pessoas distintas funcionem como um casal. Qualquer coisa diferente disso sugere que não há relacionamento; há sim dominação-submissão.

Persistência é diferente de teimosia

Tem gente que é persistente. Outras pessoas são teimosas. E por que é importante compreender isso? Porque algumas delas perdem anos e anos de suas vidas insistindo numa coisa que não dará certo. Pode ser um pequeno negócio… A pessoa se desgasta. Aposta alto, se endivida, mas não consegue prosperar. Talvez por falta de visão, de preparo ou mesmo vocação.

Pode ser o sonho de um curso universitário muito disputado… A pessoa quer muito, mas tem dificuldade para estudar, não gosta dos livros.

Costumo dizer que a realidade sempre se impõe. A realidade pode ser o limite do tempo, da capacidade para uma determinada tarefa. Pode também ser a falta de dinheiro.

Há situações em que até é possível fazer dar certo. Mas ainda assim é preciso avaliar: vale tanto esforço? É algo que quero a esse ponto?

Ter essa capacidade de questionar se a persistência não se tornou teimosia é fundamental. Sabe por quê? Porque, da vida, o que vale é nossa caminhada e não o destino. É a maneira como vivemos cada dia que determina nossos sorrisos, nossas alegrias… Ou mesmo determina nossas lágrimas e frustrações.

Atingir objetivos é importante. Todos nós precisamos ter metas, ter sonhos. Eu tenho dito que a diferença entre vitoriosos e fracassados está justamente na capacidade de pagar o preço pelos seus objetivos. Porém, a gente não pode deixar de se perguntar: qual é o preço? Estou realmente disposto? Não haveria outras formas de viver? Será que meus sonhos não estariam se tornando obsessões?

Em busca de um sonho, não podemos perder a alegria de viver. Em busca de um objetivo, não podemos abrir mão de pessoas que são queridas, que são especiais. O percurso em direção ao nosso alvo não pode se tornar um peso. E nem podemos permitir que anos e anos sejam consumidos por teimarmos em conquistar algo que talvez não seja pra ser nosso.

Sim, às vezes, pra viver, é necessário desistir. Claro, ninguém deve abrir mão de algo sem ter lutado. Mas, se não está funcionando, vale a pena buscar um conselho, ouvir pessoas experientes, experimentadas na vida. E, de forma madura, reorganizar seus projetos… Sem nunca deixar de sonhar.

A diferença entre vitoriosos e fracassados

Existe uma grande diferença entre vitoriosos e fracassados. Os vitoriosos encontram forças para prosseguir, mesmo quando o cansaço parece insuportável; os fracassados sucumbem às dificuldades e simplesmente param.

Não gosto nenhum pouco de conversas de autoajuda. Os papos de motivação me incomodam profundamente. Porém, não sou cego… Vejo, perto de mim, pessoas que conseguem superar o desgaste da luta e persistem na busca de seus sonhos.

O sonho pode ser uma vaga numa grande universidade. Observo, principalmente, aqueles que desejam cursar Medicina, Direito, Arquitetura, Engenharia… São cursos concorridos. Poucas vagas. Para serem aprovados no vestibular, esses garotos e garotas precisam encontrar disposição para estudar quando o cérebro parece já ter dado um nó e ter se tornado incapaz de aprender qualquer coisa nova. Muitos não suportam 10, 12 horas diárias de estudo. Se estão fazendo um cursinho, começam a faltar, perdem aulas, deixam de fazer exercícios… Não raras vezes, quando isso acontece, fracassam. Outros são aprovados. E eles ficam para trás.

Na faculdade, conheço jovens que acham tudo difícil. Reclamam quando são solicitadas leituras. Os textos com frequência são tidos como muito difíceis. Acham chatas todas as aulas. O intervalo de 15 minutos entre as aulas se torna meia hora. Encontram “motivos” para chegarem atrasados. Por outro, trinta minutos antes do término das aulas, já estão guardando canetas, lápis, cadernos. São pessoas que dizem ter sonhos, mas não querem enfrentar as dificuldades que surgem durante o percurso.

Nas empresas, já vi muitos funcionários falarem mal do chefe porque acham injusto, numa situação ou outra, ter que fazer o trabalho de outras pessoas. Parecem pouco dispostos a resolver problemas que “não são deles”. Outros atendem mal, nunca querem colaborar… Ficar depois do expediente então? Nem pensar!

Nos relacionamentos, a situação não é diferente. Vitoriosos são aqueles que estão dispostos a pagar o preço da escolha que fizeram. Investem suas energias, recursos…

Sabe, não existe caminho fácil em nada que optarmos por fazer. Sempre existirão mais forças reativas, querendo nos puxar para trás, que forças ativas, criadoras, criativas, que impulsionam nosso desenvolvimento. E é muito fácil a gente se deixar levar pela onda do “não consigo”, “não posso”, “não vai dar certo”, “isso não é justo”… Também é mais fácil colocar a culpa nos outros: “meu professor é um idiota”, “esse chefe quer me explorar”…

O que acontece é queremos as vitórias, mas não aceitamos enfrentar as dificuldades que trazem sofrimento durante a caminhada.

Lembro, porém, mais uma vez, que todo aprendizado implica em dor, sofrimento. Todo crescimento é resultado de esforço, persistência. E isso significa saber lidar com as lágrimas.

O que escondemos?

Vi algumas imagens curiosas do Palácio Jaburu. A residência de Michel Temer ganhou uma espécie de corredor verde para esconder os visitantes. O corredor encobriu boa parte da visão de fotógrafos e cinegrafistas que fazem plantão em frente à residência oficial. Ao que parece, a presidência não quer que as pessoas saibam quem circula pelo palácio e resolveu apostar numa forma, digamos, elegante de impedir que olhos curiosos espiem o que está acontecendo por ali.

Tem um ditado antigo que parece bastante verdadeiro: “quem não deve, não teme”. Por que a presidência precisa criar uma estratégia para que seus visitantes não sejam vistos? Talvez alguma coisa ali não pode ser vista, né?

Mas… E nós? O que queremos esconder? Ou, o que escondemos?

Eu não quero falar aqui de política. Quero falar de nós. Eu sei que muita gente costuma dizer: “ah… todo mundo esconde alguma coisa”. Essa afirmação não está completamente errada. Muitas vezes, fazemos coisas que não queremos que outras pessoas saibam. Temos comportamentos que não nos orgulham. E também construímos nossos “corredores verdes” para impedir que as pessoas vejam o que realmente somos ou fazemos.

Às vezes, nossa fachada bonita encanta, chama a atenção. A fachada é linda, perfeita. Porém, do outro lado, acontecem coisas que pouca gente pode saber.

Viver com transparência, revelando-se por inteiro é uma virtude de poucos. Queremos ocultar nossas falhas. E não deixa de ser normal que isso aconteça, pois desejamos ser aceitos, admirados, respeitados.

O problema é que quem se esconde atrás de uma fachada não vive por inteiro e nem consegue se esconder o tempo todo. A mentira que vivemos nos trai. Quando isso acontece, somos envergonhados e a reconstrução é muito mais difícil. É dolorosa, às vezes, demorada.

Por isso, ainda que pareça mais simples construir “corredores verdes” para esconder nossos atos, a escolha mais sábia é viver de forma verdadeira, transparente. Viver não tendo do que se envergonhar. Viver assim pode até não ter todo glamour que se deseja, mas certamente assegura a paz que tanto precisamos.