Ainda que se sinta sozinho, não se abandone

Você já se sentiu sozinho, sozinha, em meio a uma multidão? Já experimentou a dor de se sentir desconectado de tudo e de todos?

Eu acho que sim. Eu já vivi esta experiência. Não é nada boa.

Ainda esta semana, recebi um recadinho de uma leitora/ouvinte. Ela me disse:

Professor, me sinto tão sozinha. Queria tanto receber algum tipo de apoio, de ajuda. Mas parece que ninguém me vê.

Eu fiquei triste por ela. Mas, sabe de uma coisa? Às vezes, não somos notados e ninguém repara em nossa dor, porque as pessoas estão ocupadas com seus próprios problemas. Nem é maldade ou falta de empatia. É só efeito de um modo de vida que tem roubado de todos nós a nossa humanidade e tem silenciado o amor ao outro, mandamento precioso de Jesus Cristo.

Evidente que, como pessoas, não podemos nos acomodar e sermos reprodutores deste jeito de viver, sem alma, sem compaixão.

Porém, não temos controle do que o outro faz conosco ou por nós. Por isso, destaco aqui uma fala do escritor Augusto Cury. Ele diz:

“Quando somos abandonados pela sociedade a solidão é superável, mas quando somos abandonamos por nós mesmo a solidão é quase insuportável”, Augusto Cury, em o Futuro da Humanidade

E aqui está o ponto-chave da nossa reflexão de hoje: O que significa, afinal, abandonar a si mesmo?

Abandonar-se é perder a conexão com nossas próprias necessidades, desejos e emoções. É quando deixamos de nos ouvir, de nos cuidar e de nos valorizar.

Sabe, às vezes, a gente se larga, deixa de se importar com a gente mesmo. O mundo não olha pra nós e nossa reação é também nos largar, nos abandonar.

Já não nos preocupamos com a qualidade do sono, com nosso corpo, com nossa mente…

Na prática, a pessoa, aos poucos, vai se abandonando. Não se preocupa em usar uma boa roupa, limpa, em pentear os cabelos, usar um desodorante… Deixa a casa suja, a mesa de trabalho desorganizada…

A Bíblia fala que devemos cuidar do nosso corpo, que é templo do Espírito Santo. Muita gente usa este verso para sustentar determinadas doutrinas de usos e costumes. Porém, eu enxergo este verso para além de usos e costumes.

Cuidar deste corpo, que é templo do Espírito, significa cuidar de si, se amar, se respeitar…

Quando a gente não respeita o tempo necessário para se recuperar de uma perda, do luto, estamos nos agredindo.

Quando não temos tempo sequer para nos alimentar, também nos abandonando.

E quando nos abandonamos, permitimos que a ansiedade, a depressão e o vazio existencial tomem conta de nossas vidas. Se a gente não se respeita, quem vai nos respeitar? Se a gente se abandona, quem vai olhar pra nós?

Por isso, ainda que você se sinta sozinho/sozinha, esquecido pelas outras pessoas, olhe pra você, cuide de você. Não se vitimize. Valorize quem você é. Você é um filho/a amado de Deus.

Então reserve momentos do seu dia para cuidar de você.

Invista em atividades que alimentem sua alma. Faça algo por você, algo que te alegre, que seja pra você. O que te alegra? O que te faz bem? Se presenteie com pequenos mimos.

Cuide do seu corpo. Se exercite, durma bem, se alimente adequadamente, vista as suas melhores roupas, passe um perfume, arrume o cabelo todos os dias, cuide da sua barba…

Tem coisas que ninguém vai fazer por você. E cuidar do seu corpo depende exclusivamente de você. Quando você se cuida, você sente que está se respeitando. Você se olha no espelho e se sente melhor, inclusive.

Cuide da sua casa, do lugar onde você trabalha… Cuide de suas ferramentas, equipamentos de trabalho… Cuidar do ambiente é uma forma de cuidar de nós mesmos. De alguma maneira, você diz pro seu cérebro: eu mereço o melhor. Isto é amor próprio. Se você aceita ficar num lugar sujo, desorganizado, você diz pro mundo que aceita qualquer coisa, qualquer porcaria.

Pegou a ideia?

Não podemos controlar o abandono da sociedade, mas podemos sempre escolher nos reconectar conosco mesmos. Ao cuidarmos de nosso bem-estar emocional, nos tornamos mais resilientes e capazes de enfrentar os desafios da vida com coragem e esperança.