A economia do medo

O medo da violência urbana, a insegurança nas cidades são dispositivos relevantes na sociedade capitalista.

Existe toda uma economia que funciona em função do medo.

Milhões de reais são gastos anualmente pela população (no mundo, falamos de bilhões de dólares). Milhares de empregos são gerados.

Gastamos com seguro de carro, blindagem de veículo, seguro de imóvel… Instalamos câmeras de segurança em vários ambientes, colocamos cerca elétrica nas casas, reforçamos grades, contratamos empresas de segurança e monitoramento…

Há toda uma série de produtos e serviços que só existem por causa do medo.

A economia do medo também criou uma arquitetura própria. Nas médias e grandes cidades, temos o registro crescente de imóveis verticais e, para quem tem mais dinheiro, condomínios fechados… Muros e grades, janelas reforçadas, também atendem o desejo de mais segurança.

A arquitetura das grandes empresas é pensada não apenas para garantir funcionalidade aos serviços; busca-se também a segurança dos trabalhadores e, principalmente, proteção do patrimônio.

Todo esse investimento milionário deixaria de existir se as pessoas tivessem segurança. Mas a economia do medo não alimenta apenas diferentes setores de produtos e serviços; é fundamental a manutenção de todo um aparato policial e judiciário.

Muito dinheiro é gasto com carros, armamento, policiais, advogados, promotores, juízes, além de uma enorme estrutura burocrática de cartórios e até o sistema prisional… Tudo em função da economia do medo, que existe em virtude da criminalidade – uma criminalidade, que como é possível notar, faz muito bem à economia.

Morte de professora reforça necessidade de maior controle de população de rua

Talvez eu esteja sendo repetitivo… Porém, o assassinato da professora Kaka, em Maringá, reforça a necessidade de um olhar mais atento à população de rua. Maria Aparecida Carnelossi Pacífico foi morta no sábado, na casa dela, enquanto dormia. Suspeita-se que os assassinos sejam moradores de rua.

Tenho dito que ignorar a relação que existe entre o aumento da população de rua e a violência é se omitir diante de um problema grave, que afeta toda a população.

Morador de rua não é necessariamente bandido. Mas vários estudos mostram que quase 40% desse público são dependentes químicos. E pesquisas também mostram que pessoas sob efeito de drogas perdem parcialmente a capacidade de agir com bom senso. Princípios éticos e morais são atropelados. A necessidade de acesso às drogas também motiva furtos e assaltos.

Ainda nesse último domingo, um amigo da minha filha, um garoto de 17 anos, apanhou de dois moradores de rua que tentaram assaltá-lo. O rapazinho está com rosto machucado e algumas partes do corpo doloridas.

Entendo que o poder público não deve adotar uma política higienista. Mas é fundamental manter uma postura ostensiva. Moradores de rua precisam diariamente ser abordados, observados, revistados… Os pertences deles devem ser verificados. Há necessidade de ver se carregam algum tipo de arma, drogas, objetos de furtos…

A prefeitura tem que saber quem são esses moradores, seus nomes, suas histórias… Identificar onde dormiram hoje e onde vão pernoitar amanhã… Se já participaram de algum programa de reabilitação, se têm ficha policial, se possuem família na cidade, se têm interesse em algum curso profissionalizante…

Essa abordagem tem que ser sistemática. Isso mostra controle. Mostra que a cidade tem comando.

Se isso não for feito, nenhum programa de atendimento à população de rua será eficaz e muito menos o combate à violência terá sucesso.

Políticas de atendimento aos moradores de rua

Defendi e defendo uma política mais ostensiva para reduzir o número de moradores de rua. Em Maringá e noutras cidades do Brasil, mais que um problema social, a presença dessas pessoas nas ruas também representa um risco à segurança.

O poder público em nossa cidade tem falhado no enfrentamento dessa realidade.
Contudo, tem gente que questiona esse posicionamento. Primeiro, afirma que agir de forma mais ostensiva para reduzir os moradores de rua significa ausência de sensibilidade social. Segundo, tem também quem alega que o aumento da população de rua é culpa do (des)governo Michel Temer que teria ampliado os bolsões de miséria.

Posso assegurar que tenho sensibilidade social e reconheço que o (des)governo Temer tem potencializado a miséria no país. Contudo, ficar achando culpados não resolve o problema.

A gente precisa agir. E em duas frentes. A primeira, no reconhecimento das causas que levam às pessoas pras ruas. Com isso, desenvolver políticas de tratamento de dependentes químicos, inserção em cursos profissionalizantes e apoio às famílias. Mas a segunda frente é de caráter imediato. Trata-se da presença efetiva do poder público nas ruas. Ação de abordagem, levantamento de dados, investigação de antecedentes criminais… Isso precisa ser feito todos os dias. Quem mora nas ruas precisa sentir-se vigiado, monitorado. Eu disse e volto a repetir: as pessoas precisam perceber que a cidade tem comando.

Hoje, observa-se nitidamente que a ausência de políticas ostensivas motiva o crescimento da população de rua. Eles migram inclusive de outras cidades. Tá tudo muito fácil.

Essas pessoas que moram nas ruas devem ser estimuladas a deixar essa condição de vida, ainda que para isso, inicialmente, sintam-se pressionadas.

Prefeitura falha no atendimento à população de rua

A prefeitura de Maringá tem falhado nas políticas de atendimento à população de rua. E não é de hoje. O problema se arrasta há várias gestões. Porém, acentuou-se nos dois últimos anos. Embora a gente não tenha estatísticas oficiais, é visível o aumento da quantidade de pessoas que estão nas ruas.

Gente nas ruas é resultado, geralmente, de três situações: dependência química, perda de emprego e conflitos familiares. Ou seja, a solução para o problema passa pelo desenvolvimento de políticas públicas bastante distintas. Desde a prevenção e tratamento de dependentes químicos até acolhimento das famílias.

Contudo, essas políticas não possuem efeito imediato. Por isso, além de cuidar das causas, há necessidade de ações imediatas. Não dá para o poder público se proteger atrás da legislação que permite o ir e vir das pessoas. Moradores de rua, principalmente quando são dependentes químicos, fazem abordagens que intimidam, assustam e colocam em risco a população.

Hoje, dificilmente alguém consegue circular por alguns espaços públicos sem ser abordado por gente pedindo dinheiro e, por vezes, de maneira intimidadora. A população acaba se sentindo insegura, com medo.

Por isso, é fundamental que o poder público tenha ações ostensivas. É necessário colocar a guarda municipal, assistentes sociais e até mesmo a polícia para abordar essas pessoas diariamente. Há necessidade de uma política ostensiva. O poder público precisa oferecer amparo para esse público, insistir que participem dos programas de inserção, mas ao mesmo tempo é preciso que sintam que a cidade tem comando. A população de rua não pode se sentir livre, à vontade para ficar onde quiser e agir como bem entender.

Violência conjugal

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Um novo relatório da Organização Mundial de Saúde informou que, no mundo, uma em cada três mulheres sofre violência conjugal. Sim, uma em cada três é vítima do próprio parceiro, do sujeito que deveria estar ali não apenas pra prover, mas principalmente para amar e proteger.

E mais, o documento mostrou que entre 100 milhões e 140 milhões sofreram mutilação sexual e cerca de 7% sofrem violência sexual ao longo da vida.

Esses números me assustam. Sei que existem diferentes motivos pra isso. Vão desde a cultura até posições religiosas de caráter questionável. Entretanto, o que mais me entristece é que isso tudo acontece e pouca coisa se faz. Estou cansado de ver denúncias, mas o que tem mudado?

Muitos desses crimes também acontecem perto da gente. Quem não conhece uma vítima de violência doméstica? Quem não sabe de pelo menos um caso de estupro contra mulher?

Pior que mesmo em países como o nosso, os atos de violência são por vezes tolerados. Muita gente age como se fosse normal o homem espancar a mulher. E isso ocorre por ciúme, porque ela queimou o arroz, porque esqueceu de passar a camisa ou simplesmente porque não quis fazer sexo.

Não sei se apenas punições mais duras são suficientes para mudar essa realidade. Talvez o maior problema ainda seja o medo, a vergonha. Por razões que a própria razão parece incapaz de explicar, muitas mulheres sofrem caladas. E outras inclusive assumem a responsabilidade pelo ato de violência sofrido. É como se repetissem o mantra: “eu mereci”.

Sei apenas que, como sociedade, precisamos rejeitar todo e qualquer ato de violência contra a mulher. Nada justifica. E eu entendo que isso deve mudar a partir do nosso discurso, da nossa posição diante de fatos que deveríamos condenar.

Dias atrás, por exemplo, ouvia uma mulher contando de uma conhecida que traiu o marido e apanhou dele. Ela repetia a história do espancamento, tendo como espectadores da narrativa duas filhas menores e um garoto de 12 anos:

– Bem feito! Quem mandou ser safada?, dizia.

Esse tipo de discurso perpetua uma visão machista e que tolera a violência. Essas meninas vão crescer pensando o quê? E o garoto? Será que não se sentirá autorizado a bater numa futura parceira? Violência nenhuma pode ser aceita. Em nenhuma situação. Não adianta a gente ter legislação rigorosa, mas uma cultura que admite (e até estimula) a violência em “casos específicos” – como se algumas ocasiões justificassem a agressão.

E o medo, por que ocorre? Porque além da sensação de impunidade, existe a impressão que ninguém se importa. Se pedir ajuda para o vizinho, até que ponto irá se envolver? Na verdade, muitas vezes, nem mesmo as autoridades policiais se empenham em dar atendimento às vítimas. Não são raros os casos de vítimas desestimuladas a denunciar os agressores.

Sinceramente, eu não tenho respostas… Não sei como mudar essas estatísticas. Sei apenas que, a partir da casa da gente, da sala de aula, temos que manter um discurso que rejeite por completo a violência contra a mulher. É preciso falar, falar e falar sobre essas questões. Aproveitar todas ocasiões. E fazer isso sem ter vergonha, sem ter pudor.

Golpe do bilhete premiado

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Quem cai no golpe do bilhete premiado? Eu me surpreendo sempre quando vejo o noticiário e descubro os perfis das vítimas. É impressionante! Tem gente simples, mas tem gente supostamente esclarecida. E o que leva a pessoa a ser seduzida? Primeiro, a habilidade dos criminosos; segundo, a ganância.

Soube do caso de uma professora. Ela perdeu R$ 100 mil. E os golpistas não levaram mais, porque não quiseram. A vítima sacou o dinheiro, que era de uma casa que havia vendido, e só não deu outros R$ 100 mil porque os bandidos não esperaram pela grana.

É curioso ouvir o relato dos funcionários do banco. Eles a questionaram sobre o motivo do saque. Ela respondeu que aplicaria na compra de um sítio. Como estranharam o comportamento da cliente, insistiram que negócios não podem ser feitos de última hora, que poderia estar sofrendo um golpe. A professora sustentou que era esperta e ninguém ia passá-la para trás. As lágrimas de desespero, enquanto registrava a ocorrência na delegacia, demonstram que nem sempre dá para ser auto-confiante.

Sabe, eu nunca acreditei em dinheiro fácil. Nem apostas eu faço. Conheço gente que vez ou outra embarca em “novidades”, aquelas parecidas com pirâmides, e até faturam seus trocados. Existem inclusive alguns produtos que são vendidos dessa forma: você ganha pelo simples fato de alguém, que foi seu cliente, estar vendendo o tal objeto. Porém, pra mim, não dá. Talvez eu seja conservador demais, ou seguro demais.

Acho, porém, que a ganância tem norteado as escolhas de muita gente. O golpe do bilhete só seduz porque a pessoa vê ali uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil. Pior, há uma motivação que vai para além da ganância. Enquanto o golpe se desenvolve, a vítima acredita que está se dando bem, que vai se dar bem cima do outro “tolo”. Ou seja, há um desejo desonesto. O estímulo, que faz funcionar o golpe, nasce da ganância combinada com certo “mau-caratismo”; não tem nada a ver com “vou ajudar o outro comprando o bilhete”.

Ou seja, se nossas motivações fossem virtuosas, éticas, o golpe nunca se efetivaria.

Quase linchado. Crime? Ele queria comer

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“Nas ruas do mundo, o grande desafio é olhar para ver” (Eliane Brum)

Ele tem 17 anos. Quase foi linchado. Foi pego por populares após tentativa de furto em supermercado. Ouviu insultos… Muita gente o chamou de vagabundo, vadio. Queriam matá-lo. O adolescente tentava furtar comida.

Tempos atrás, ouvi uma professora dizer que a sociedade brasileira é vingativa, raivosa. Concordo com ela.

Temos inúmeros crimes que revoltam. Entretanto, vez ou outra parece que é preciso descontar em alguém nosso ódio. Nessa terça-feira, 4, no Rio, um adolescente de 17 anos foi alvo do desencanto, da desilusão, do sentimento de impunidade da população.

Existe justificativa para o furto? A fome é razão para um crime? Parece-me que não. Porém, existem motivos para tentar tirar a vida de um adolescente?

Enquanto lia a notícia, pensava nas condições de vida desse adolescente. Eu não sei quem ele é, qual é sua família. Entretanto, creio que deve ser vítima dessa mesma sociedade que queria linchá-lo. Garoto negro, filho do morro… Excluído do mundo urbano, da cidade, do consumo.

De fora, não conhecemos a vida desses meninos criados no morro, nas periferias, nos guetos de nossas cidades. Ali a maioria não tem escolha. Furtos, roubos, tráfico nem sempre são uma opção de vida; podem ser consequência de ter nascido na favela, da falta de outras oportunidades.

O imperativo “Vai trabalhar, vagabundo!!!” é só uma retórica pobre, vazia na boca de quem julga pelas aparências. O garoto que tem fome, que tenta furtar para comer, provavelmente não conseguiria emprego se tivesse aparecido um dia antes pedindo trabalho na empresa de qualquer um daqueles que tentavam matá-lo.

Um garoto que tenta furtar para comer talvez nem tenha sido pego pelo tráfico, porque o tráfico paga seus soldados.

A jornalista Eliane Brum diz que

Nas ruas do mundo, o grande desafio é olhar para ver. E olhar para ver é perceber a realidade invisível – ou deliberadamente colocada nas sombras. Olhar para ver é o ato cotidiano de resistência de cada pessoa.

Sabe, na história de vida de cada pessoa há um universo – para nós, desconhecido – que motiva ações ou reações que condenamos. As condições sociais, familiares, históricas às vezes são determinantes. Com um pouco de tolerância e interesse pelo outro (o desafio de olhar para ver), perceberíamos que “menores infratores” podem ser vítimas de uma sociedade desigual, que condena muitos à eterna marginalidade.

Ps – O texto não tem como proposta ser uma defesa do garoto. E a principal discussão não visa tratar desse adolescente que quase foi linchado. A proposta é fazer pensar sobre a maneira como julgamos os menores, a forma vingativa que a sociedade tem respondido por anos de frustração diante da impunidade, os riscos que corremos ao sermos apressados nas conclusões e, por fim, para apontar que muitos dos adolescentes criminosos são vítimas das próprias condições sociais. 

Homossexualidade, intolerância e mortes

Eu não entendo a intolerância. Não aceito a ausência de humanidade, de respeito ao outro, ao desejo do outro. Como pode existir gente (sim, dizem ser gente) que mata pelo simples fato de o outro ser diferente? E diferente no quê? No desejo. Desejo por alguém do mesmo sexo. Não dá para compreender a motivação dessas pessoas que sentem necessidade de eliminar outro ser humano por discordar de sua orientação sexual.

Fiquei assustado na última sexta-feira quando vi a estatística. Talvez não reproduza números exatos. Mas, segundo a ONG GGB (Grupo Gay da Bahia), foram 165 mortes de homossexuais neste ano só no primeiro semestre – janeiro a junho de 2012. Isso representa mais de 27 mortes por mês. Quase uma por dia. E, detalhe, na comparação com o ano passado, um acréscimo de 28% nesse tipo de crime.

Nada justifica. E não é um crime como outro qualquer. Assemelha-se sim com assassinatos de negros, judeus e outras etnias. Mas, do ponto de vista penal, não dá para punir como se pune um homicídio ocorrido numa briga de bar. Nem dá pra comparar com aquele que acontece na tensão de um assalto.

Quem mata homossexuais parece inseguro da própria sexualidade. Afinal, o que motiva tal crime? Qual a razão? Será que essas pessoas acham que eliminar o diferente vai “purificar” a sociedade? Eles são sujos? São indignos? Esses criminosos acreditam que quem tem desejo pelo mesmo sexo é passivo de morte? Que tipo de prazer mórbido é este que se dá na morte de um homossexual?

Não, o problema não está em quem é homossexual. Está naquele que não consegue tolerar o diferente. Ninguém precisa gostar de ninguém. Precisa, porém, respeitar. É a orientação sexual do outro. Pronto. Nada mais que isso. É a vida do outro. Não é a minha. Não é a sua.

Mas… seria medo? Medo do quê? Sabe, o homossexual é como eu. A diferença está apenas no desejo. Eu desejo o sexo oposto; ele, não. E se um gay gostar de mim? Simples. Da mesma forma que posso dizer “não” a uma mulher por quem não esteja apaixonado, digo “não” para outro homem. Simples assim. E se ele me perseguir? Bom, quem garante que uma mulher também não seria capaz disso?

Mesmo uma sociedade, que tentasse sustentar seus argumentos contra os homossexuais sob o ponto de vista religioso, não teria como justificar bani-los de seu convívio. Os escritos bíblicos apresentam o desejo por pessoas do mesmo sexo como pecado, mas Cristo em nenhum momento foi intolerante com pecadores. Logo, nem usando a Bíblia alguém poderia rejeitá-los.

Dias atrás, disse aqui que muitas vezes as pessoas escolhem não gostar de nós. Rejeitam sem conhecer. Tenho a impressão que, no caso de homossexuais, negros, judeus etc, também é uma escolha. Essas pessoas escolheram rejeitar. Sentem prazer nisso. Prefiram bloquear suas mentes a tolerar o diferente. Um diferente que nem é diferente de si, apenas tem um desejo que não se assemelha ao que se convencionou como o certo. Gente assim se faz pequeno e mostra o quanto a humanidade, por vezes, é mais ignorante que os próprios animais.

Caso da menina Beatriz: a morte da inocência

Eu queria ter algo pra dizer. Mas me sinto impotente. O que falar da morte de uma garotinha de 10 anos? Sim, Beatriz Silva Pacheco Gonçalves tinha apenas 10 anos. Apenas um ano mais nova que minha filha. Ela foi vítima de um desses maníacos que precisam se servir de crianças para aplacar seus desejos. Nessas horas, impossível não pensar em nossos filhos.

Não, um crime dessa natureza não é normal. É verdade que, no passado, quando a humanidade não reconhecia a infância, o sexo com crianças não era crime. Mas o desenvolvimento humano mudou isso. Felizmente. Entretanto, alguns sequer dão conta de respeitar uma norma moral. E dão vazão aos seus piores instintos. No caso da garota Beatriz, o sujeito abusou e ainda a matou, estrangulada.

Desde quando soube do desaparecimento da pequena, lembrei do caso Márcia Constantino. Mais uma vez, toda a crueldade humana materializada na violência contra uma criança indefesa.

Nessas horas, sentimos o quanto, como sociedade, ainda pouco fazer. É importante encontrar o criminoso. Encontrar e punir. Mas não adianta, como defendem alguns, pedir a pena de morte para psicopatas como esse sujeito (que ainda não foi identificado). Matá-lo não traz de volta a menina. Não pune. Na verdade, nenhuma pena compensa a perda de uma vida. A pequena Beatriz foi tirada da família. Esse maníaco impediu-a de crescer e ser alguém. Em seus 10 aninhos, ela apenas estava se descobrindo e descobrindo o mundo.

Talvez, como disse minha querida amiga e professora Eliane Maio, resta-nos pouco a fazer diante de crimes como esse. Deveriam, porém, servir de alerta para prepararmos nossas crianças, falarmos sobre o risco que correm. Discutirmos em casa e nas escolas os crimes de ordem sexual. E isso não é tirar a inocência de nossos pequenos. Pelo contrário, é mantê-los inocentes. O risco sempre vai existir, mas, educados – inclusive do ponto de vista da sexualidade -, nosso filhos ao menos saberão dizer “não” para ofertas de doces, brinquedos ou de R$ 10, como foi o caso da menina Beatriz. Saberão, inclusive, que seus corpinhos não estão disponíveis para o toque e satisfação dos adultos.

Elize, traição e amor próprio

É triste que, enquanto a gente se emociona com uma notícia tão singela, outra nos faz tão mal. Sei que a traição dói. Só quem experimenta essa realidade sabe o tamanho da revolta, da mágoa, da tristeza. Entretanto, nada justifica a vingança.

Mas, ao que parece, Elize Ramos Kitano Matsunaga, 38 anos, preferiu tratar o assunto do jeito mais cruel: assassinando o marido, o executivo da Yoki, Marcos Kitano Matsunaga, 42. Matou e esquartejou.

Às vezes, não consigo acreditar que seres humanos sejam capazes disso. Mas são. E certamente muitos ainda pensam que essa é a melhor forma de lidar com a rejeição.

Como sempre discuto relacionamentos por aqui, me atreveria a dizer que pessoas que se vingam diante de uma traição não amam. Nunca amaram o outro e nem a si mesmas. São pessoas dependentes; doentes emocionais.

Gente bem resolvida chora a dor da decepção, mas se levanta e consegue dizer: “ele – ou ela – não me merecia. Vou em frente, porque tenho mais o que fazer”.

Não foi o que fez Elize. Ela preferiu pôr fim a vida do marido, estragar a própria vida e comprometer o desenvolvimento de uma criança que hoje tem apenas um aninho. Lamentável!