Desistir pode ser libertador

A vida é uma jornada repleta de desafios e obstáculos. E a persistência geralmente é o que determina nosso sucesso ou nosso fracasso. Quando esbarramos nas dificuldades – e elas sempre vão existir -, e desistimos, nos apequenamos.

No entanto, há momentos em que nossa persistência se transforma em teimosia, e insistimos em algo que não nos leva a lugar algum. A linha entre persistência e teimosia pode ser muito tênue. E não é tão simples saber se estamos sendo persistentes ou apenas teimosos.

A verdadeira sabedoria está em saber quando desistir. Admitir a necessidade de desistir não é fácil; afinal, ninguém gosta de admitir derrota ou abandonar um projeto no meio do caminho. Mas às vezes, desistir é a escolha mais inteligente que podemos fazer.

A diferença entre persistência e teimosia – Persistência é uma qualidade admirável. É aquela força interior que nos impulsiona a continuar mesmo quando enfrentamos dificuldades. No entanto, é preciso observar os sinais – inclusive os mais sutis – para reconhecer quando essa persistência se torna teimosia. Se não fizermos isso, perdemos de vista o objetivo original e ficamos presos em um ciclo improdutivo.

Imagine um alpinista escalando uma montanha. Ele enfrenta ventos fortes, temperaturas congelantes e terrenos traiçoeiros. Sua persistência o mantém focado no topo da montanha. Mas se ele continuar escalando mesmo quando as condições se tornam perigosas demais, ele estará agindo por teimosia.

Ou ainda… Imagine aquela mulher que insiste em manter um casamento com um homem que a maltrata, humilha, trai ela com várias outras mulheres, vez ou outra dorme na casa de amantes. Estaria ela sendo persistente para salvar o casamento ou apenas teimosa, agredindo-se diariamente, destruindo a autoestima, o amor próprio, o senso de valor?

Avalie suas escolhas – Para saber quando desistir, é fundamental avaliar nossas escolhas com clareza. Pergunte-se:

  • Estou progredindo ou apenas me mantendo ocupado?
  • Isso está me fazendo bem ou prejudicando minha saúde mental e emocional?
  • Existem alternativas mais eficazes?

Se perceber que está preso em um ciclo improdutivo ou que sua persistência está causando mais danos do que benefícios, considere a possibilidade de desistir.

A liberdade na desistência – Quando a persistência se revela improdutiva, tem prejudicado a saúde mental, emocional e não há sinais de que as coisas vão mudar, vale a pena abrir daquilo que parecia um sonho, um projeto de vida.

Todo sonho que se torna um pesadelo consome nossas energias. E mais, rouba nossa vida. Costumo dizer que dias perdidos é vida perdida. Quando perdemos dinheiro, podemos lutar e ganhar novamente. Com a vida é diferente; um minuto que perdemos, é um minuto que não conseguimos recuperar. Não dá pra esticar a vida para recuperar o que foi perdido.

E, na prática, o que acontece é justamente o contrário. Quando persistimos em algo que não nos faz bem, geralmente nosso corpo paga o preço. Basta reparar: pessoas que vivem situações muito difíceis quase sempre carregam as marcas do sofrimento em seus corpos. Noutros palavras, envelhecem mais rápido.

Por isso, desistir pode ser libertador. Abrir mão de algo que não está funcionando permite que recomecemos, que façamos algo diferente. Ou seja, desistir dá a chance de colocar algo novo no lugar – um novo sonho, um novo projeto e até um novo relacionamento.

Portanto, lembre-se: desistir nem sempre é sinal de fraqueza; pelo contrário, muitas vezes é uma atitude corajosa e sábia.

Tente não desistir…

Você já abriu não de algum sonho ou deixou de fazer algo que você gostava muito? Neste vídeo, conto sobre uma das minhas grandes paixões e do arrependimento que sinto por ter desistido

Talvez por imaturidade ou ingenuidade, desistimos de algumas coisas que nos causam arrependimento no futuro. Como as escolhas são referenciadas pelo conhecimento e contexto que temos no momento de decisão, não vislumbramos todos os cenários e, depois, nos arrependemos.

Por que digo isto? Porque eu tenho muitos arrependimentos. Fiz coisas no passado que hoje não faria.

No final de semana passado, minha esposa estava arrumando algumas coisas em casa. E ela tirou de cima de um guarda-roupas minha velha guitarra. Embora tenha comprado há cerca de 30 anos, ela segue linda. É vermelha e preta. Foi minha segunda guitarra. Comprei quando tinha uns 15, 16 anos, depois de “namorá-la” na vitrine da loja por várias semanas.

Comecei a tocar muito cedo. Tinha uns 10 anos de idade. E a guitarra era uma das minhas grandes paixões.

Mas, quando casei, praticamente ignorei tudo que tinha aprendido esqueci minha guitarra. Devo ter tocado menos de 10 vezes nesses últimos 27 anos.

Quando a Rute tirou a guitarra da capa e a reencontrei após tantos anos, comentei: esta é uma das coisas que me arrependo; não deveria ter parado de tocar. A Rute concordou. Não faz sentido ter abandonado.

Sabe, este arrependimento não me traz dor, não me faz sofrer. Mas foi uma das bobagens que fiz e hoje sinto falta. Sempre amei a música. E é claro que posso voltar a treinar, reaprender, ensaiar e até fazer alguns belos solos de guitarra.

Mas recomeçar, hoje, é muito mais difícil. Tenho uma rotina, tenho compromissos e não seria simples dedicar tempo para essa atividade. Teria sido muito mais simples ter continuado com aquilo que já fazia.

Por que conto essa história pra você? Porque quase todos os dias vejo pessoas desistindo de coisas, abrindo mão de sonhos em função de alguma dificuldade momentânea. Neste momento de pandemia de coronavírus, por exemplo, em função das aulas on-line, tenho visto alunos parando seus cursos na faculdade por que estão com dificuldade de se adaptarem.

Lamentavelmente, alguns talvez nunca retornem. É bem possível que irão se arrepender.

Costumo dizer que desistir sempre será uma possibilidade, uma escolha. Desistir é sempre mais fácil. Quando algo novo aparece, quando nossa rotina muda, a gente para a academia, deixa as aulas de inglês, tranca o curso, abandona as aulas de música, se distancia dos amigos, para de escrever pro blog, visita menos nossos pais… E a lista de desistências aparentemente inocentes ou normais pode ser acrescentada com muitos outros exemplos que talvez até já façam parte da história de sua vida.

Essas decisões, porém, talvez nos tragam arrependimentos futuros. Por isso, ainda que desistir seja uma opção, nenhuma escolha deve ser feita sem considerarmos muito se aquilo nos fará falta ou não no futuro. Ainda que nossa visão seja limitada no presente, cautela, diálogo, conselhos podem minimizar as chances de errarmos. Por isso, recomendo: persistir, insistir pode ser doloroso, mas geralmente é mais recompensador.

Na segunda, uma música

Muita gente vive o drama constante de guardar sentimentos que incomodam. Pequenas ou grandes frustrações que machucam o coração. Verbalizar essas dores, por vezes, é a melhor maneira de aliviar as dores da alma.

Caminhando como um exército de um homem só
Lutando contra as sombras em sua mente
Vivendo o mesmo velho momento
[…] Diga o que você precisa dizer

John Mayer, na música “Say”, traz um recado que deveria nortear nossa vida.

Não tenha medo de continuar
Não tenha medo de desistir
Melhor você saber que no fim é melhor dizer demais
Do que nunca dizer o que você precisa dizer

Persistir é fundamental. Mas desistir também pode ser necessário. O que a gente carece é ter certeza de ter dado o melhor, feito o melhor, investido o nosso melhor… Feito tudo pra vida valer a pena.

Mesmo que suas mãos estejam tremendo
E sua fé perdida
Mesmo se os olhos estiverem se fechando
Faça isso com o coração bem aberto

E então… vamos ouvir?