Caso Márcia: o que diz o delegado

O caso da menina Márcia Constantino ainda mexe com todos nós. É impossível, por exemplo, não trocar alguns palavras sobre o assunto quase sempre que me encontro com o delegado Antonio Brandão Neto, chefe da 9ª SDP. Ele comandou as investigações que resultaram no esclarecimento do crime.

Somos colegas de trabalho na Faculdade Maringá. Ele dá aulas no curso de Direito; eu, no Jornalismo. Por isso mesmo, tive a chance de perceber como o caso o incomodou. Também notei que, em vários momentos, a polícia parecia não conseguir avançar nas investigações.

Diante do quadro, convidei o delegado Brandão para falar sobre o assunto. Relacionei algumas perguntas e mandei por email. Ele ainda não teve tempo de respondê-las, mas fez um relato inicial interessante que gostaria de compartilhar com você, caro leitor.

“Em nenhum momento pensei que não conseguiria esclarecer o crime. Em todas as entrevistas, afirmei que prenderíamos o infrator. Entretanto, confesso, estava preocupado, pois não haviam indícios.

Na manhã de domingo, por volta das 10h, recebemos um informe (através do telefone 190 – Polícia Militar) dando conta que o infrator estava usando um veículo prata, placas de Rio Preto. Passamos o dia todo até chegarmos ao suspeito. No interior de sua casa, havia 200g de cocaína. Ele negava, veementemente, a autoria e, submetido a exame pelo Sr. Perito do IML -Instituto Médico Legal, nenhuma lesão foi verificada na sua genitália. Por força disso, foi autuado em flagrante por tráfico. Apesar disso, ainda o considerava suspeito. Mais à noitinha, os pastores da Igreja, que durante todo o período muito colaboraram conosco, nos indicaram mais 3 ou 4 pessoas suspeitas, dentre as quais quem mais tarde descobrimos ser o autor.

Entretanto, submetidos à perícia médica, nada foi constatado em nenhum deles. Assim, o Natanael tinha a seu favor a perícia e os álibis que trouxe para suas declarações. Tínhamos, portanto que tomar bastante cautela, pois, apesar de Natanael possuir antecedentes, como os outros suspeitos também, não podíamos errar, sob pena de prender um inocente, apenas para dar uma rápida resposta à sociedade e, correr o risco de deixar o verdadeiro culpado à solta.

Em momento algum deixamos os suspeitos sem vigilância, mas, confesso, até 4ª feira as coisas estavam bastante difíceis.

No final da tarde de 5ª feira, as diligências avançaram e nós (3 delegados, mais os investigadores) já começávamos a suspeitar de uma forma mais consistente em relação a Natanael. Os seus álibis foram caindo por terra, tais como (aqueles que diziam respeito ao horário da 20h30 às 23h30), além do fato dele ter dito que alugara um veículo por R$ 130,00, mesmo recebendo R$ 180,00 semanais, para ir numa festa na Igreja e ter afirmado que fora em outra Igreja.

Além disso, eu tive que “enganar” a imprensa e a opinião pública, pois na manhã de 5ª feira eu já sabia o resultado do exame que havia sido feito nas secreções colhidas do corpo da vítima e Natanael mostrara-se preocupado, afirmando que a Polícia Civil poderia plantar prova.

Assim sendo, na manhã de 6ª feira, optamos, mesmo sem indícios concretos, ser oportuno e imprescindível a sua segregação temporária, fato este que foi avalizado pelo Ministério Público e deferido pelo Poder Judiciário.

Após cumprirmos o Mandado e prendê-lo, por volta das 16h, ele foi trazido para a 9ª SDP e, por volta das 19h00, acabou confessando a autoria do crime.

Na 2ª feira, após o almoço, recebi ligação do Instituto de Criminalística de Curitiba, que realizou o exame de DNA, tendo o Sr. Perito afirmado que as correspondência alélicas verificadas entre a
evidência e o suspeito, segundo a análise estatística efetuada, geraram um coeficiente de verossimilhança de 5,26 x 10 (à 18ª potência) vezes mais provável que Natanael seja o doador da secreção depositada no corpo da vítima do que outro indivíduo desconhecido e não testado na análise. Obtivemos, portanto, de uma forma escorreita a confissão e a prova técnica, o que fornecerá elementos suficientes de prova para uma perfeita análise do caso por parte do Poder Judiciário.

Foi um excelente trabalho. É praticamente indefensável. A condenação virá com certeza e a Justiça será feita de forma correta e justa.”

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