Caso Márcia: o que diz o delegado – II

Publiquei aqui a primeira parte de uma entrevista que solicitei ao delegado Antonio Brandão Neto sobre o caso da menina Márcia Constantino. Hoje, disponibilizo as demais respostas. Deixei-o à vontade para falar sobre as investigações, impressões que teve sobre o crime e a necessidade de fazer justiça.

Minha intenção em “ouvir” o delegado foi tornar pública a realidade de quem viveu a pressão de resolver um caso que impactou toda uma comunidade.

Durante as investigações o senhor chegou a ficar irritado com o comportamento da imprensa. Por quê?

Em momento algum eu me irritei com a imprensa, até mesmo porque eu compreendo que todos aqueles que se faziam presentes na delegacia estavam pautados pelos seus superiores, razão pela qual respeito muito o seu trabalho. Na realidade, eu estava um pouco preocupado, pois tinha que atender bem a imprensa, passar informações corretas e atualizadas, mas também tinha que assegurar o sigilo daquilo que era a essência das investigações.

A opinião pública tinha o direito de ser bem informada, mas, nesses casos, não era todos os fatos passiveis de serem divulgados, até mesmo para que os suspeitos não desaparecessem. A pronta colaboração do ilustre delegado do 3º DP, Dr. Paulo Machado, foi fundamental, pois, enquanto ele trabalhava ouvindo as pessoas (testemunhas, suspeitos, familiares e adotando outras providências pertinentes), eu pude me dedicar mais a produção da prova técnica. Tudo estava sendo checado, desde os “pardais” que foram instalados pela prefeitura, os contatos da vítima e familiares pelo telefone e pela internet, pessoas próximas da vítima e de sua família, possíveis rotas utilizada pelo infrator.

Somente um delegado, atuando neste caso, não suportaria. Além disso, tinha um batalhão de repórteres acampados na 9ª SDP que pediam informações a cada momento. Isso tudo foi-nos desgastando, pois chegávamos bem cedo e saiamos bem tarde.

Em casa, não conseguia dormir, pois ficava pensando em tudo o que tínhamos feito durante o dia para tentar montar o quebra-cabeça.

Nossa equipe foi muito além da jornada normal de trabalho. Deixamos nossos familiares um pouco de lado e nos preocupamos em prender o infrator.

O crime foi revoltante, mas ainda assim o senhor fez de tudo para impedir que o acusado fosse lesado em seu direito. Por quê?

O infrator não sofreu nenhum tipo de violência por parte da Polícia Civil. Nem poderia ser de outra forma. A garantia de sua integridade física é a nossa garantia de que cumprirá, se assim entender o Poder Judiciário, uma longa pena, longe do convívio social.

Ali sim, atrás das grades, privado de sua liberdade, encontrará a retribuição de todos nós pelo mal que ele causou. Confesso que durante o momento em que o interrogava, fiquei indignado,
constrangido e, como pai, ou como cidadão comum, até mesmo levado a tomar uma atitude mais radical, mas, graças a Deus, eu e todos aqueles que acompanharam o interrogatório nos contivemos, pois você já imaginou a manchete jornalística do dia seguinte: “FULANO perde o controle e espanca o infrator”? Seria muito triste e arranharia todo o exitoso trabalho.

Em nenhum momento teve vontade de deixar que o criminoso sofresse nas mãos de outros presos?

Em nenhum momento tive essa vontade, até mesmo porque entendo que nós temos o dever de garantir a integridade física do preso, seja ele quem for, não importando o crime que tenha praticado.

Essa não é a primeira vez que desvendo um crime hediondo e, em nenhuma delas permiti agressões ao preso. A pena deve ser aplicada pelo Poder Judiciário e não pelas pessoas.

Pela sua experiência, acredita que um crime como esse pode motivar outras pessoas a imitá-lo?

Acredito que a exposição que o caso teve junto à mídia pode motivar outras pessoas a praticar atos semelhantes. Por outro lado, também foi muito divulgado a respeito das penas para quem age desta forma, razão pela qual eu penso que se tivermos um sistema carcerário seguro, onde não haja fugas, certamente, aqueles que tiverem intenção de agir dessa forma, pensarão muito, antes de praticar um crime tão grave quanto esse.

Finalmente, quero ressaltar o trabalho integrado que foi realizado entre as duas instituições co-irmãs (Polícia Militar e Polícia Civil), bem como agradecer a compreensão dos colegas delegados, escrivãos e investigadores e de nossos familiares, que nos apoiaram durante esses longos cinco dias, pois trabalhamos incansavelmente na busca da verdade e do perfeito esclarecimento dos fatos. Também, aos pastores da Igreja Assembléia de Deus e todos os seus membros, bem como a todos os cristãos de Maringá que oraram por nós e pelos familiares da vítima. Agradeço, ainda, o pessoal da SETRAN, aos peritos do IC-Instituto de Criminalística e do IML-Instituto Médico Legal e ao MM Juiz da VEP-Vara de Execuções Penais e ao Diretor da PEM-Penitenciária Estadual de Maringá, que possibilitaram que o infrator ficasse sob a custódia daquele estabelecimento penal.

Esperamos que fatos desta natureza nunca mais ocorram em nossa cidade, mas afirmamos que, se for preciso, a Polícia Civil, sempre estará pronta para agir e para servir e proteger a nossa comunidade.

Um abraço a todos e que Deus nos abençoe.

Um comentário em “Caso Márcia: o que diz o delegado – II

  1. Já tive a oportunidade de trabalhar com o Dr. Brandão em ação conjunta entre órgãos de segurança pública.
    Eu o admiro pela maneira como conduz o seu trabalho.
    Acho que futuramente ele será Secretário de Segurança Pública.

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