Paolicchi e o dinheiro

Foram presos, nesta terça-feira, os suspeitos de assassinarem o ex-secretário Luís Antônio Paolicchi. Em Paranavaí. Três Quatro pessoas (três homens e uma mulher) estariam envolvidas. O responsável pelo crime seria o companheiro da vítima. E o motivo seria financeiro – ou seja, o sujeito estava de olho no patrimônio de Paolicchi. Eles tinham união estável e comunhão total de bens.

Paolicchi, como a maioria dos maringaenses sabe, foi um dos responsáveis pelo maior caso de corrupção já visto na cidade. Os desvios de recursos superaram os R$ 100 milhões. E isto há mais de 10 anos.

Vejam como são as coisas… O ex-secretário roubou a cidade. O companheiro de Paolicchi, para ficar com o dinheiro, teria encomendado sua morte.

Homens se corrompem, se sujam e até matam pelo mesmo motivo: dinheiro.

Neste caso, dinheiro sujo, maldito.

Corrupção na polícia: bandidos e mocinhos se confundem

A corrupção é prática comum no país. Por isso, não é de se estranhar a declaração do traficante Nem. Preso nessa quinta-feira, ele declarou que metade do seu faturamento ia para os policiais – civis e militares.

Eles fazem parte da chamada “banda podre” da polícia.

Infelizmente, a afirmação de Nem não traz nenhum fato novo. Novo será se os nomes dos “beneficiados” forem listados e os envolvidos, punidos.

No Brasil, bandidos e mocinhos se confundem. Não dá para saber em quem confiar. Nos morros, por vezes, é mais fácil deixar a segurança para os traficantes.

Não dá para dizer que isso vai mudar. Ações têm sido desenvolvidas para afastar a “banda podre”. Mas, para quem está de fora, nunca é possível saber até que ponto isso é sério ou se trata-se apenas de atitudes que maquiam os fatos mais graves.

Por isso, a prisão de Nem – e de outros traficantes – não traz conforto. Não significa vitória. Gente presa não liberta a população. Continuamos inseguros. A vida segue sob regime fechado.

Adeus amiga… Ou, até breve!

Raramente passo aqui aos domingos. Mas hoje senti necessidade. Não para compartilhar uma reflexão, um dos meus textos em que penso alto sobre a vida, nosso jeito de ser e como podemos crescer em nossa busca para felicidade. Escrevo para falar de perda, de saudade.

Meio por acaso descobri que uma amiga perdeu a vida. Estava alterando a configuração do Facebook quando vi o comentário feito por outra amiga a respeito da morte de Angela Guedes. Talvez você não a conhecesse. Mas, para mim e para outras pessoas, era uma pessoa especial.

Ela foi vítima da violência. Foi assassinada. E na frente dos filhos e do marido. Estava num hotel em Medianeira, quando o local foi alvo de bandidos. Eles renderam os hóspedes e, por ela mexer no celular sentar-se na cama, atiraram.

Sinceramente, não sei muito o que dizer. A morte da Ângela não foi a primeira e nem será a última nessas circunstâncias. Mas quando a vítima é alguém que a gente gosta é impossível não se perguntar: até quando? Ou ainda, como alguém pode matar outra pessoa assim?

Eu não vou lamentar as falhas da segurança pública. Nem a ausência de programas sociais que possam reduzir a violência. São problemas inerentes de uma sociedade movida por sentimentos mesquinhos e que, lamentavelmente, produz criminosos.

Digo apenas que nossa indignação diante da violência e do mal talvez sugiram que dentro de nós ainda exista a vontade do bem. Não apenas como atos de bondade, mas como reflexo de um mundo melhor almejado, num sonho que parece indicar que nossos desejos estão ligados a uma força que transcende ao próprio homem. Uma força que, no mundo cristão, chamamos de Deus e sua promessa de uma vida sem choro, dor ou morte.

Atualizado: O fato ocorreu num hotel em São Miguel do Iguaçu – cidade próxima de Medianeira.

Não gosto de enquetes

Acho pobres. Nem tudo se responde com um “sim” ou “não”. Há questões complexas demais para serem tratadas na base de um “eu concordo” ou “eu discordo”.

Hoje, por exemplo, recebi uma pergunta, pelo facebook. Uma enquete:

– Você é a favor da liberação da maconha?

Desculpa, mas eu não consigo responder simplesmente com um “sim” ou “não”. A pessoa que colocou o questionamento na rede teve uma bela iniciativa. É importante fazer pensar. Afinal, quem tem a capacidade de refletir, mesmo diante de duas únicas opções de resposta, põe-se a pensar.

Mas, voltando ao tema, grandes perguntas merecem grandes respostas. E a questão da maconha é um exemplo – por sinal, o debate não é pela liberação, mas sim pela descriminalização dessa droga (algo bem diferente do que simplesmente liberar o uso).

Tempos atrás cheguei a publicar aqui um breve post sobre o tema. Confesso que continuo sem uma resposta objetiva. Penso que a sociedade precisa debater o tema. Não sei se a solução é descriminalizar a maconha. Ou, quem sabe, até mesmo outras drogas.

Sei apenas que as estratégias hoje utilizadas não dão conta do problema. Não previnem, não tratam os dependentes, muito menos combatem o tráfico de drogas.

Pais que matam filhos; filhos que matam pais

Uma das primeiras notícias que li na manhã desta quinta-feira foi esta:

Embriagado, homem mata filha a facadas e tenta se matar em Minas Gerais

A gente não precisa ir além do título para ficar chocado. É triste. Lamentavelmente, não é um fato raro no noticiário nacional. Pais que matam filhos, filhos que matam pais…

Alguns dizem: “sinal dos tempos”…

Se “sinal dos tempos” for o desamor, o desapego, sim; é “sinal dos tempos”. Tempos estes já existentes na história desde sempre. Então não venham me dizer que isso começou agora. Laços familiares nunca foram motivo para evitar agressão entre pessoas do mesmo sangue e até morte.

Estranhamos, não queremos, não aceitamos, mas humanos são contraditórios e nem sempre possuem amor ou respeitam a vida – até mesmo dos seus. E a bebida, embora possa contribuir para romper com certos valores, apenas revela a verdadeira face dos sujeitos.

Quem pode evitar que o garoto pule o muro?

Um muro. Ele está lá. Separa o público do privado. Garante privacidade. Mais que isso, garante segurança. Muros separam. Dividem. São construídos como indicativos de que aquele espaço tem regras próprias, e que precisam ser respeitadas.

Em sociedades desenvolvidas – ou em condomínios fechados – já são dispensáveis. Porém, sempre existiram e continuarão existindo em determinados espaços. São necessários.

Numa escola, por exemplo, o muro dá segurança aos pais, pois sabem que os filhos estão protegidos naquele espaço. Terão dificuldade para deixar a instituição; e quem está de fora, não entra.

Mas o que dizer quando não cumprem sua função?

Foto meramente ilustrativa
Em Maringá, tenho observado tentativas de se implantar catracas nos portões da escola para aumentar a segurança. Também se fala em instalar câmeras de vídeo – com custo aproximado de R$ 4 milhões.

Hoje, porém, assisti “de camarote” uma cena que prova que nem os muros – nem câmeras ou catracas – podem garantir coisa alguma. Por volta das 13h40, vi um garoto de baixa estatura, 14 ou 15 anos, saltar o muro do Instituto de Educação de Maringá. Quem conhece o colégio, sabe bem que são dois metros e meio ou três de altura. Isso não o impediu de escalar com uma enorme facilidade. Ele chegou, deu impulso, dois ou três movimentos depois, estava dentro do colégio. Fácil, fácil.

O muro, recém-pintado, já está sujo. Sugere que o feito do garoto é repetido por outros adolescentes. É provável que sejam alunos. Mas podem não ser. Ainda que sejam, quem precisa pular um muro? Que aluno precisa fazer isto? Faz isto por prazer? Por chegar atrasado?

Diga-me: quem está seguro? O que são nossas escolas?

Diante da habilidade do garoto, só pude sorrir pensando na irônica proposta de instalar catracas nas escolas. Pensei nos milhares de reais gastos com muros. E ainda na possibilidade de alguns milhões aplicados em câmeras. Tudo bobagem. O mundo real reclama ações mais amplas e criativas.

Atualizado (sexta-feira, 20/5, 11h20): Descobrimos um dos prováveis motivos para o garoto pular o muro da escola. Uma nova regra implantada pelo Instituto de Educação impede que os alunos entrem cinco minutos após o início da aula. Ou seja, os “espertinhos” pulam o muro para driblar a regra. Regra, convenhamos, no mínimo questionável – mas falo sobre isso noutro post.

Passada a comoção, será que nossas crianças estarão protegidas?

Tenho procurado responder todos os comentários que chegam por aqui. Mas de ontem pra hoje não deu. Além da falta de tempo, foram vários textos e todos discutindo o mesmo assunto: a tragédia no Rio. O fato lamentável, que nos tocou, comoveu e que não conseguimos entender, certamente vai nos machucar por muito tempo.

De verdade, só espero que seja o primeiro e último massacre numa escola. O que nos assusta, porém, é que, passada a comoção, talvez nada aconteça para evitar novas tragédias. E ainda que providencias sejam tomadas, não há garantias de que nossas crianças estarão completamente protegidas.

Tragédia no Rio: nós, a imprensa e a busca de um por quê

Hoje é dia do jornalista. Talvez uma oportunidade para refletirmos sobre nossa profissão. Entretanto, nenhum jornalista vai se ocupar disso nesta quinta-feira. Afinal, mesmo quem está longe do Rio de Janeiro quer entender o massacre ocorrido numa escola da Zona Oeste. Onze crianças foram vítimas de um imbecil, neurótico, doente mental.

Jornalistas, comentaristas e “simpatizantes” da imprensa querem esgotar o tema. O negócio é falar, falar sem parar. Ainda que tudo ainda esteja confuso, o objetivo é um só: continuar atualizando as notícias sobre o fato. Há uma busca sem medidas por um único detalhe novo do acontecimento. Não importa onde ele esteja, nem como será descoberto; ainda assim, é preciso oferecer uma notícia nova sobre a tragédia.

Trata-se de uma ação quase irracional, inconseqüente. Não há autocrítica. Nada. Não importa se tudo está no campo do “achismo” ou se realmente existe alguma coisa que valha a pena ser publicizada. O público quer novidades. Nós queremos mais informação. E queremos entender por quê.

Mas, sabe caro leitor, não tem por quê. Eu e você não vamos entrar na cabeça do sujeito. Claro, como disse no post anterior, no universo dele há uma justificativa para esse ato de tamanha crueldade. Mas, para nós, nada justifica. E não justifica mesmo.

Hoje e nos próximos dias estaremos incomodados, entristecidos porque crianças inocentes morreram. Foram assassinadas. E sem motivo. Pior, num ambiente que só deveria proporcionar crescimento. Escola deveria ser lugar de paz, de formação de valores e produção do conhecimento; local para abrir a alma, encontrar-se vida. Nunca para uma tragédia; encontro com a morte.

Todas as notícias que vimos e que ainda veremos sobre esse fato são palavras ao vento. Vidas não serão devolvidas. O criminoso não será punido. Ele já se puniu. Tirou a vida. Deixou-nos impotentes; não temos ninguém contra quem descarregar nossa raiva. A morte dele frustra a sociedade do direito de questioná-lo, acusá-lo, condená-lo.

Não encontraremos respostas. Nada vai saciar nossa indignação e muito menos esse desejo de entender por quê. A imprensa vai tentar… Até nos cansar. Mas nenhum argumento será suficiente.

Cá com meus botões entendo que resta-nos apenas chorar pela morte de inocentes, lamentar a fragilidade da vida e a insegurança que nos cerca, desejar que homens e mulheres consigam ser humanos e sonhar que a loucura um dia esteja restrita apenas ao mundo das artes – pois só lá as tragédias possuem seus encantos.

Tragédia no Rio: crianças mortas por atirador

Absurdo esse fato ocorrido no Rio de Janeiro. O cara entra na escola e sai atirando contra crianças inocentes. Como um ser humano pode fazer isso? Teria deixado de ser humano? É coisa do demônio, como alguns dizem?

Quem comete esse tipo de crime sempre tem, dentro do seu universo pessoal, uma justificativa para tamanha loucura. Entretanto, é impossível compreender tal ato.

Enquanto ouço e leio notícias sobre o fato, recordo que o Questão de Classe (CBN Maringá) desta quinta-feira trata da violência contra o professor. Até chegamos a falar sobre esse tipo de crime – atirador que entra em escola e dispara contra alunos. Entretanto, meu convidado – o doutor em Educação, Raymundo de Lima, – pontuou, fora do ar, que não acreditava que, no Brasil, pudéssemos ver esse tipo de crime.

Isto foi anteontem. Ou seja, terça-feira, enquanto gravávamos o programa. Hoje, a gente vê esse absurdo. Pra mim, fica a impressão que não podemos mais duvidar de nada. Não estamos isentos de nenhuma forma de loucura humana. E pior, ninguém está preparado para situações como essa. Não há investimento em prevenção e a qualquer momento outros fatos como esse podem se repetir.

Caso Lavínia: a obsessão que mata

Não leio notícias negativas. Principalmente as que envolvem mortes, tragédias. Evito sempre. Até mesmo apresentando o jornal, procuro ignorar o que há de mais sangrento. Não se trata de uma negação da realidade; apenas uma atitude para preservar o espírito, as emoções.

Entretanto, há momentos em que os tragédias falam mais alto que minhas convicções. A morte da pequena Lavínia, de seis anos, é um exemplo disso. Desde o início da semana, estou vendo as manchetes, mas procurando ignorá-las. Nem por aqui quis comentar o fato. Acontece que falando ou não sobre o assunto, um outro caso envolvendo uma garota chamada Lavínia está movimentando o blog.

Acabei me sentindo obrigado a entender o caso. Não foi difícil. Uma mulher obcecada pelo amante se sente desprezada por ele. Pede dinheiro a ele. Não ganha. Para se vingar, mata a filha do cara.

Este é o resumo da história. Ou seja, o fato. O que temos depois – inclusive na narrativa jornalística – são os detalhes do fato.

É desnecessário recontar o que aconteceu. Não são necessários nomes. Nada. O que vale é parar pra refletir um pouco: por que sentimentos tão bons – como o amor – podem provocar tragédias? Talvez seja porque não exista amor. Algumas pessoas não amam; são possessivas, sentem-se donas.

Ainda assim, diria que até aí não temos grandes conseqüências. Possessão, ciúme geram briga, tiram a paz… Perturbam o relacionamento. Mas não matam ninguém. O problema é quando transcendem o desejo de ser único, exclusivo.

Raiva e ódio são sentimentos humanos. Quando se perde o objeto de desejo, podem despertar a vingança. Querer vingar-se também é humano. É nosso. Está em nós.

Por isso, o que diferencia quem comete crimes como esse contra a pequena Lavínia das demais pessoas tidas como normais é a forma como esses sentimentos são administrados. Atire a primeira pedra quem nunca sentiu vontade de se vingar de alguém… É doloroso reconhecer, mas o nosso coração não é bom. Ser bom, fazer o bem, conter-se, silenciar a vingança é negar nossos impulsos mais cruéis. E isto não nasce em nós. Aprende-se.