Sozinho, mas não solitário

Viver sozinho/a é diferente de ser solitário/a.

No texto anterior, falei sobre a “economia da solidão”, um movimento do mercado que identificou um novo nicho: o das pessoas que vivem sozinhas.

No capitalismo é assim: tudo tem potencial de virar dinheiro. E isso não é necessariamente ruim.

No caso da chamada “economia da solidão”, tratam-se de iniciativas extremamente interessantes. Garantir um atendimento que deixa a pessoa confortável no restaurante, na compra ou locação de um imóvel, pacotes de viagem e até para compra de produtos, como um bolo feito para uma pessoa só… É também uma forma de respeito.

Porém, fechei o texto destacando que, embora a “economia da solidão” tenha aspectos positivos, não é bom que as pessoas vivam solitárias.

E aí recebi alguns comentários que me motivaram explicar algumas coisas.

A primeira e mais importante: viver sozinho/a é diferente de ser solitário/a.

Muita gente vive só porque os filhos já foram embora; às vezes, o marido ou a esposa faleceu… Tem situações de separação… Tem jovens que moram sozinhos; alguns porque estudam fora… Meu filho, por exemplo, foi fazer residência médica em Curitiba. Ele é solteiro. E vive sozinho.

Ou seja, existem inúmeras situações que levam uma pessoa a viver sozinha. E algumas, inclusive, por escolha, porque preferem viver sozinhas.

Entretanto, nenhuma dessas pessoas deveria viver solitária. Ou seja, isolada.

A solidão se instala, de fato, no isolamento. Quando a pessoa perde conexão com outras pessoas. E isso não é bom. Não é saudável.

Deus não nos criou para vivermos sozinhos. E a ciência comprova que nosso cérebro necessita de conexões sociais. Daniel Goleman, no livro ‘Inteligência Social’, destaca a importância dos neurônios espelho, sugerindo que nosso cérebro é naturalmente inclinado à interação social, refletindo a necessidade de ter outras pessoas em nossas vidas.

Talvez você more sozinho/a. Talvez você faça alguns programas sozinho/a. Mas se você não tem um único amigo, um único familiar com quem você possa conversar, sair para almoçar… Você está diante de um problema.

A falta de conexões sociais não apenas empobrece sua experiência de vida, mas também pode prejudicar seriamente sua saúde emocional e física.

O isolamento social pode levar ao aumento dos sentimentos de solidão, ansiedade e depressão. A falta de interações sociais significativas pode diminuir o senso de pertencimento e autoestima, e isso aumenta o risco de transtornos mentais.

Já os neurônios espelho, mencionados por Daniel Goleman, não apenas nos ajudam a entender as ações e emoções dos outros, mas também são cruciais para o desenvolvimento da empatia. A ausência de interações sociais regulares pode atrofiar nossa sensibilidade, nos tornar pessoas amargas.

Mas não para por aí… Estudos demonstram que o isolamento social e a solidão podem ter efeitos negativos na saúde física, comparáveis a fatores de risco bem conhecidos como fumar e obesidade. Isso inclui um maior risco de condições como doenças cardiovasculares, hipertensão, declínio cognitivo e até mesmo morte prematura.

Além disso, as interações sociais regulares ajudam a construir uma rede de apoio emocional, que é vital para enfrentar estresses e adversidades da vida. Sem uma rede de apoio, a gente se vê em situações muito complicadas quando enfrenta um problema de saúde e não tem ninguém sequer para levar ao hospital, se está passando mal.

E o que é mais triste: o isolamento pode se tornar um ciclo vicioso. Quanto mais uma pessoa se isola, mais difícil pode ser para ela se reconectar ou formar novas relações.

Então, pegue a dica: a interação humana é um pilar fundamental para o nosso bem-estar. Você pode morar sozinho/a, mas não pode se isolar.

Se você não tem família por perto, faça amizades, procure se conectar com pessoas da sua comunidade – vizinhos, pessoas da igreja… Geralmente, as cidades têm programas sociais que reúnem pessoas para fazer artesanato, exercícios físicos… Participe! Se conecte com as pessoas.

Reconhecer a importância das relações sociais é o primeiro passo para buscar uma vida mais plena e saudável.