Coragem de amar: sem humildade e coragem não há amor

A frase não é minha. A frase é de Zygmunt Bauman e está no livro “Amor líquido, sobre a fragilidade dos laços humanos”.

Esta frase é curtinha, mas muito profunda. Trata-se de um paradoxo que resume muito daquilo que encontramos no texto clássico do apóstolo Paulo sobre o amor, e que, ao longo da história, tem inspirado poetas como Luís de Camões e Renato Russo.

Bauman, quando afirma “sem humildade e sem coragem não há amor”, ressalta a necessidade da doação, da tolerância, da paciência, da abnegação. Mas também destaca que, para amar, é preciso não ter medo.

E por que é preciso não ter medo? Porque amar significa aceitar o risco de sofrer. A escritora Elisabeth Elliot disse em vários de seus livros que todo amor resulta em sofrimento.

Quem tem medo do desconhecido, quem tem medo das perdas, quem tem medo de se magoar, não ama.

Pense só no que significa ter um filho… Quantas vezes temos que ser humildes e nos colocar em condições que talvez não nos colocaríamos para garantir um prato de comida ou um atendimento médico para um filho? Quem já abriu mão do orgulho próprio para garantir o bem estar de um filho?

Por outro lado, quem não tem a coragem de aceitar que poderá sofrer uma decepção, de ser abandonado ou até de chorar a morte de um filho, não se torna pai ou mãe. Porque quando a gente tem um filho, a gente corre o risco do abandono, da decepção, da perda.

Mas, você que é mãe, você que é pai, me diga: existe amor mais incrível do que o amor de um pai, de uma mãe por seu filho?

O que dizer do amor num relacionamento? Quem ama, une sua vida à vida de outra pessoa. E aceita os riscos. É preciso ser humilde para abrir mão de si e corajoso para construir uma vida a dois.

Seja para amar um filho, um marido, esposa, ou mesmo para ter amigos de verdade, é preciso ter humildade e também muita coragem para amar.

E qual a recompensa do amor? Ah… é difícil explicar em palavras. Só os humildes e corajosos, que decidiram amar de verdade, conhecem o poder do amor.

O amor, em todas as suas formas, exige uma entrega genuína que muitas vezes parece contraditória. Ao amar, nos tornamos vulneráveis, mas é justamente essa vulnerabilidade que nos fortalece. No amor, encontramos um paradoxo: ao nos entregarmos, ganhamos.

Essa entrega envolve aceitar que nem sempre teremos o controle da situação. No amor, aprendemos a arte de soltar, de confiar, mesmo quando o futuro parece incerto. E aqui entra a humildade – a aceitação de que não somos onipotentes, de que o outro tem suas próprias vontades e desejos, que podem ou não estar alinhados com os nossos.

A coragem no amor, por outro lado, é a força motriz que nos permite enfrentar esses desafios. É a coragem de dizer ‘eu te amo’, mesmo sem garantias de que seremos amados. Não foi isto que Deus fez por nós?

É a coragem de permanecer, de lutar por alguém, mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis.

No amor, também aprendemos a aceitar as mudanças. Tudo muda, as pessoas mudam. E é preciso coragem para aceitar essas mudanças, para crescer junto com elas, em vez de resistir. A humildade nos ensina a aceitar as transformações.

E, claro, não podemos esquecer do amor próprio. A humildade de reconhecer nossas próprias limitações e a coragem de nos amarmos, apesar de nossas fraquezas. Afinal, como podemos amar genuinamente se não nos amamos primeiro?

O amor, portanto, é um constante aprendizado. Mas é uma jornada que vale a pena. Porque, no final das contas, o amor nos transforma. Ele nos torna pessoas melhores, mais completas. E essa é a maior recompensa de todas: a transformação que o amor traz para nossas vidas.