A comunicação é necessária, mas não é nada fácil dialogar dentro do relacionamento

Você se sente confortável em conversar com o seu parceiro/a?

Deixa eu reformular a ideia: você consegue conversar sobre tudo com a pessoa que você ama? Você dá conta de falar a respeito de tudo, de expor tudo o que pensa, o que sente?

Ou será que tem coisas que você não consegue conversar com ele/a?

A gente sempre defende que a comunicação é essencial nos relacionamentos. E, de fato, é. Em quase todas as questões que discutimos a respeito da dinâmica dos relacionamentos, sustentamos a necessidade de uma boa comunicação para que a vida a dois funcione. Ou seja, se conversássemos mais, muita coisa seria resolvida, muitos problemas seriam evitados.

Porém, não é tão simples dialogar. Existe uma distância entre aquilo que deveria acontecer e o que realmente acontece. E não é porque a gente não sabe que precisa conversar; a maioria de nós, sabe. Quase todo mundo já ouviu alguma coisa sobre a importância do diálogo. E também penso que a maioria reconhece o valor do diálogo. Mas simplesmente não consegue colocar isso em prática.

E vou além… Alguns assuntos, inclusive, são tabus. A gente não quer se expor. A gente não quer falar e muito mesmo revelar – mesmo para a pessoa que amamos.

Nos sentimos desconfortáveis em tratar de alguns temas.

O filósofo Alain de Botton fala sobre isso quando discute a questão do sexo no casamento. Ele mostra que nos escondemos e evitamos falar sobre certas coisas que pensamos ou desejamos.

O filósofo destaca que, num casamento com cinco anos, dez anos ou mais, as pessoas não deveriam se sentir desconfortáveis em se expor. Mas não é isso o que acontece. De certa forma, temos receio da reação da outra pessoa.

Gente, precisamos ser realistas: o diálogo real, profundo, não é nada fácil.

A complexidade do diálogo nos relacionamentos humanos transcende a mera troca de palavras; essa dificuldade se enraíza nas vulnerabilidades, medos e, sobretudo, nos tabus que permeiam a intimidade humana.

Este tema reflete a nossa contínua luta entre a necessidade de conexão autêntica e o medo da exposição. A gente quer se conectar, mas se expor não é nada confortável.

Vivemos uma constante dança entre o desejo de sermos compreendidos e o receio de nos revelarmos por completo.

O desafio do diálogo nos relacionamentos amorosos reside não apenas na capacidade de falar, mas, crucialmente, na habilidade de ouvir.

A escuta ativa requer uma abertura para acolher o outro em sua totalidade, incluindo seus desejos mais profundos, medos e inseguranças, muitos dos quais se encontram velados sob camadas de constrangimento e vergonha.

É triste dizer isso, mas a verdade é que não temos, na casa da gente, um ambiente totalmente livre de julgamentos e tampouco com a empatia necessária para que haja acolhimento.

O diálogo pleno não acontece porque temos receio de que o outro não nos ame quando revelarmos nossas vulnerabilidades.

A dificuldade em abordar temas considerados tabus não acontece apenas por uma negligência na comunicação, por falta de vontade de compartilhar… A dificuldade ocorre por um temor profundo de julgamento, rejeição ou mesmo de não corresponder às expectativas do parceiro.

Aqui reside o desafio diário que enfrentamos no relacionamento: a verdadeira intimidade emerge da coragem de nos desnudarmos emocional e psicologicamente, enfrentando nossos próprios fantasmas para permitir que o outro nos veja como realmente somos.

Mas como fazer isto?

Ei, eu vou dizer algo pra você… Muita gente talvez não concorde, mas ainda assim eu preciso dizer: talvez você nunca consiga expressar ao seu parceiro/a tudo o que vai no seu coração.

Para que esse diálogo profundo, verdadeiro, aconteça de fato, o casal precisa a cada dia criar um ambiente de confiança, de acolhimento, livre de julgamentos. E isso depende de cada pessoa, individualmente.

Deve começar com você. Se você quer um espaço seguro para a comunicação, onde ambos se sintam apoiados para expressar suas verdadeiras necessidades, desejos e preocupações, você deve tentar oferecer este ambiente para o seu parceiro/a.

Não dá para esperar pelo outro.

Vai ter que haver disposição para que a outra pessoa se sinta totalmente livre para verbalizar tudo o que pensa… Essa intimidade total é fruto de um trabalho diário, contínuo e, por vezes, desgastante, porque, na prática, nem sempre estamos prontos para ouvir o que a outra pessoa tem a dizer.

Portanto, repito, para que o diálogo seja realmente livre e aberto, comece por você. Construa o cenário para que seu parceiro/a se sinta, de fato, “em casa”. Com o tempo, talvez vocês dois consigam aquilo que poucos conseguem: dialogar livremente, sem medo.